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irA vulnerabilidade genética desempenha um papel fundamental no risco de desenvolvimento da maioria das condições médicas. Assim como o consumo diário de 8 g de sal de cozinha irá desencadear hipertensão em alguns indivíduos e em outros não, a psicose se manifesta em indivíduos geneticamente predispostos quando expostos a fatores de risco específicos. Desde a publicação do Nosso Lar, em 1945, no exemplo da reencarnação de Segismundo, sabemos de maneira mais detalhada como a vulnerabilidade genética é apenas um reflexo ou imprinting das nossas lesões perispirituais.
Por exemplo, o consumo de maconha durante a adolescência pode aumentar, significativamente, a probabilidade de desencadear um episódio psicótico em indivíduos com predisposição genética, elevando o risco em até 10 vezes. Outros fatores que contribuem para o desenvolvimento da psicose incluem: condições de trabalho insalubres, privação de sono, estresse pós-traumático, experiências traumáticas, como assaltos ou sequestros, perda de bens, imigração e discriminação em um novo país. Todos esses fatores podem aumentar a vulnerabilidade do indivíduo à psicose.
Considere este caso clínico que atendi no meu 2º ano de residência em Psiquiatria durante um estágio de interconsulta psiquiátrica. Um paciente, identificado como M, estava internado na enfermaria de pneumologia com quadro de delírios de perseguição, alucinações visuais e auditivas.
M, de 46 anos, natural de Recife e morando em São Paulo há quatro anos, trabalhava como fiscal e era divorciado, com dois filhos morando com a ex-mulher. Ele era acompanhado pela pneumologia devido a uma fibrose pulmonar intersticial, uma condição que pode ter várias causas, incluindo exposição a metais tóxicos e microbactérias. Ele foi internado com sepse, uma infecção grave que começou nos pulmões e se espalhou pelo corpo.
O quadro psiquiátrico de M começou após sua separação. Quatro anos antes, ele se mudou para São Paulo após descobrir uma traição de sua esposa, o que, na cultura de sua região no Nordeste, toca em questões de honra. M enfrentou um dilema profundo entre vingar-se de sua esposa e do amante dela ou perdoá-los. Ele optou pelo perdão, refletindo sobre a necessidade de saber perder na vida.
Esse caso ilustra a complexidade dos fatores envolvidos na psicose. Enquanto fatores biológicos, como uso de corticoides, infecções e doenças sistêmicas, podem desencadear episódios psicóticos, fatores emocionais e espirituais, como traumas pessoais e dilemas morais, também desempenham um papel significativo. Uma abordagem integral, que considere tanto os aspectos orgânicos, psicológicos quanto sociais e espirituais, é fundamental para um tratamento eficaz.
Nesse caso, além do tratamento com antipsicóticos e a redução possível da dose de corticoides, a presença diuturna de familiares e amigos foi imprescindível para o paciente se sentir progressivamente mais seguro, protegido e envolto em vibrações amorosas para alguns dias depois dizer apenas que tinha ficado confuso.
Do ponto de vista espiritual, é relevante considerar os quadros psicóticos mais graves e crônicos como possível consequência de padrões de comportamento bastante contrários às leis divinas, repetidos em diversas encarnações sucessivas. Nesses casos, a lesão é mais profunda e abrange o corpo mental, enquanto casos de depressão e ansiedade ocorrem quando há lesão no corpo emocional. A perda do contato com a realidade, que caracteriza a psicose, pode ser o freio da misericórdia divina para que novos equívocos não se repitam. No entanto, a abordagem sugerida é a de olhar para o futuro, conforme ensinado pelo médium Chico Xavier: “Ninguém pode voltar atrás e fazer um novo começo, mas qualquer um pode começar agora e fazer um novo final”. A ideia é usar o passado como referência para evitar erros repetidos, adotando uma postura de crescimento e evolução.
A psicose, em termos clínicos, é uma ruptura com a realidade, que geralmente se manifesta por meio de delírios, alucinações, desagregação do pensamento ou comportamento desorganizado. Delírios são crenças inabaláveis, mesmo diante de evidências contrárias. Um exemplo é a síndrome de Cotard, em que o paciente acredita estar morto ou que seus órgãos estão deteriorando, mesmo quando confrontado com a realidade contrária, como ouvir os batimentos do próprio coração.
Alucinações, que podem ocorrer em qualquer dos cinco sentidos, são percepções que só o indivíduo afetado experimenta. As alucinações auditivas são as mais comuns, mas também podem ocorrer alucinações visuais, que estão mais associadas a condições biológicas, como tumores cerebrais, intoxicação exógena, distúrbios metabólicos etc. A desagregação do pensamento ocorre quando o indivíduo não consegue conectar suas ideias de forma coerente, resultando em discurso desconexo. O comportamento desorganizado pode incluir ações bizarras e sem explicação aparente, que podem colocar a vida do próprio indivíduo ou de terceiros em risco.
Existem inúmeras causas biológicas e orgânicas para a psicose, e é importante combater a visão simplista de que todo quadro psicótico é decorrente apenas de uma obsessão espiritual ou mediunidade em desequilíbrio. Embora fatores espirituais influenciem, especialmente em indivíduos psicóticos que se encontram em sintonia com energias desequilibradas, é crucial considerar a dualidade dos fatores envolvidos. O tratamento eficaz deve abranger as diversas dimensões do ser humano, integrando os aspectos biológicos, psicológicos, sociais e espirituais.
Por exemplo, indivíduos com predisposição genética a quadros psicóticos podem desencadear uma psicose ao tomar certos medicamentos, como anfetaminas, anticolinérgicos e até antidepressivos. Pacientes com Parkinson e predispostos à psicose podem manifestar sintomas psicóticos ao usar medicamentos como o biperideno. Da mesma forma, um paciente com predisposição ao transtorno bipolar tipo 1 pode entrar em uma fase maníaca psicótica ao tomar antidepressivos ou por simplesmente ter parado de usar seu estabilizador de humor.
Como exemplo, lembro-me de uma paciente que cuidei no meu segundo ano de Psiquiatria que entrou em mania psicótica após parar sua medicação. Ela andava hipermaquiada e de salto alto pela enfermaria enquanto dizia ininterruptamente que era a presidente do Brasil.
Esses exemplos ilustram como o tratamento da psicose deve ser integrativo, levando em conta tanto os fatores biológicos quanto os espirituais. Somente assim será possível oferecer uma abordagem terapêutica verdadeiramente eficaz e abrangente.
“Cada Espírito habitando um corpo traz consigo sua própria bagagem de vibrações, valores e sentimentos, o que pode aumentar ou diminuir o risco de desenvolver psicose.”
Algumas psicoses podem ser irreversíveis, como no caso da esquizofrenia, que não possui cura, apenas tratamento para amenizar os sintomas. Em pacientes gêmeos univitelinos, geneticamente idênticos, se um desenvolve esquizofrenia, a probabilidade de o outro também desenvolver é de 48%. Isso demonstra que, embora os genes sejam iguais, fatores ambientais, espirituais ou experiências de vida podem influenciar o aparecimento da doença. Cada Espírito habitando um corpo traz consigo sua própria bagagem de vibrações, valores e sentimentos, o que pode aumentar ou diminuir o risco de desenvolver psicose.
Embora o uso diário de maconha entre os 15 e 25 anos possa desencadear esquizofrenia em indivíduos geneticamente predispostos, muitos casos de psicose induzida por substância são reversíveis. Existem também psicopatologias decorrentes de doenças sistêmicas, como insuficiência renal, encefalopatia hepática, hipertireoidismo grave e deficiências prolongadas de vitamina B12 e ácido fólico. Outras condições neurológicas, como a Coreia de Huntington, Síndrome de Wilson, epilepsia e acidentes vasculares cerebrais, também podem causar psicose.
A visão médico-espírita agrega uma dimensão adicional ao entendimento da psicose ao considerar aspectos que transcendem a matéria. A mente ainda é uma incógnita para a ciência, que também não possui uma definição clara para a consciência. A Psiquiatria tradicional, que opera em uma compreensão puramente materialista dos fenômenos mentais, não consegue alcançar uma compreensão mais profunda das alienações mentais.
A perspectiva médico-espírita encoraja uma abordagem multidimensional no tratamento da psicose, integrando o conhecimento médico tradicional com uma compreensão espiritual mais profunda. Dessa forma, o tratamento eficaz de quadros psicóticos deve considerar tanto as causas biológicas quanto os fatores espirituais, oferecendo um cuidado integral que abrange todas as dimensões do ser humano.
A compreensão da psicose sob essa ótica expandida nos convida a olhar além dos sintomas imediatos e considerar o papel mais amplo que nossas escolhas, valores e experiências espirituais desempenham na nossa saúde mental e no bem-estar geral.
“Do ponto de vista espiritual, o caso do paciente M., com psicose induzida por corticoides, descrito no início do texto, também pode ser visto como uma oportunidade de aprendizado e crescimento. Ele estava enfrentando desafios significativos: de um dilema entre honra e poder, possivelmente vivenciado em encarnações anteriores em que seria inadmissível ser traído e não se vingar, para uma vida atual marcada pela fragilidade e dependência. A experiência de vulnerabilidade pode ser interpretada como uma lição espiritual, uma chance de o indivíduo reavaliar seus valores e evoluir.”
Causas biológicas e orgânicas
Há uma variedade de causas biológicas e orgânicas para a psicose. Algumas delas incluem:
Esses exemplos demonstram que a psicose pode ser um sintoma de múltiplas condições médicas, exigindo uma abordagem médica abrangente e integrada para o diagnóstico e tratamento.
A perspectiva médico-espírita
Do ponto de vista médico-espírita, a mente e a consciência transcendem a matéria física. A Psiquiatria tradicional, ao focar exclusivamente nos aspectos materiais do cérebro, limita-se a uma compreensão parcial dos fenômenos mentais.
A visão médico-espírita sugere que, em muitos casos de psicose, os fatores espirituais, como influência de Espíritos desencarnados ou questões não resolvidas/traumáticas de encarnações anteriores, reverberam na vida presente. No entanto, nem todo quadro psicótico é resultante de uma obsessão espiritual. A condição genética/perispiritual, psicológica, social e espiritual do indivíduo, incluindo seus valores e sentimentos internos, influenciam a predisposição para adoecer mentalmente.
Em última análise, a jornada do paciente é um reflexo das complexas interações entre o corpo físico, perispírito, corpo mental e o Espírito, e cada etapa do tratamento é uma oportunidade para promover a cura e o crescimento integral. Somos todos viajantes do tempo, aprendendo a amar e a evoluir por meio das experiências que a vida nos oferece.