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irNa minha opinião, ser grato é a chave de acesso à primeira porta dos nossos bons sentimentos e, por conseguinte, aos bons pensamentos e às boas atitudes. Sim, pensamos continuamente, não paramos de pensar, mas em que parte do cérebro estamos nos fixando? Prestemos atenção se não estamos sendo muito racionais, não deixando espaço para a reflexão, a empatia, os sentimentos mais nobres e espiritualizados.
A nossa natureza é divina. Por essa razão, quanto mais nos aproximamos da nossa essência, mais o nosso nível de consciência se amplia e, assim, mais sintonizados com Criador estaremos. Note que, para alguém expressar a gratidão, antes pensou e refletiu, fazendo emergir o seu melhor, que se revelou em sua atitude.
Para ilustrar a nossa reflexão, transcrevo abaixo um episódio da vida do nosso querido Chico Xavier, contado por Ramiro Gama no livro Lindos casos de Chico Xavier:
Chico levantara-se cedo e, ao sair de charrete para a fazenda, encontra-se no caminho com o Flaviano, que lhe diz:
– Sabe quem morreu?
– Não!
– O Juca, seu ex-patrão. Morreu na miséria, Chico, sem ter nem o que comer…
– Coitado! E Chico tira do bolso o lenço e enxuga os olhos.
– A que horas é o enterro?
– Creio que vão enterrá-lo a qualquer hora, como indigente, no caixão da prefeitura, isto é, no rabecão…
Chico medita, emocionado, e pede:
– Flaviano, faça-me um favor: vá à casa onde ele desencarnou e peça para esperarem um pouco. Vou ver se lhe arranjo um caixão, mesmo barato.
Flaviano despede-se e parte.
Chico desce da charrete. Manda um recado para seu chefe. Recorda seu ex-patrão, figura humilde de bom servidor, que tanto bem lhe fizera. E ali mesmo, no caminho, envia uma prece a Jesus: “Senhor, trata-se do meu ex-patrão, a quem tanto devo; que me socorreu nos momentos mais angustiosos, que me deu emprego com o qual socorri minha família; que tanto sofreu por minha causa. Que eu lhe pague, em parte, a gratidão que lhe devo. Ajude-me, Senhor”.
E, tirando o chapéu da cabeça e virando-o de copa para baixo, à guisa de sacola, foi bater de porta em porta, pedindo uma esmola para comprar um caixão para enterrar o extinto amigo.
Daí a pouco, toda Pedro Leopoldo sabia do sucedido e estava perplexa, senão comovida com o ato do Chico.
Seu pai soube e veio ao seu encontro, tentando demovê-lo daquele peditório…
– Não, meu pai, não posso deixar de pagar tão grande dívida a quem tanto colaborou conosco.
Um pobre cego, muito conhecido em Pedro Leopoldo, é inteirado da nobre ação do Chico, a quem estima. Esbarra com ele:
– Por que tanta pressa, Chico?
– Meu Nego, estou pedindo esmolas para enterrar meu ex-patrão.
– Seu Juca!? Já soube. Coitado, tão bom! Espere aí, Chico. Tenho aqui algum dinheiro que me deram de esmolas ontem e hoje. E despejou no chapéu do Chico tudo o que havia arrecadado…
Chico olhou-lhe os olhos mortos e sem luz. Viu-os cheios de lágrimas. Comoveu-se ainda mais.
– Obrigado, meu Nego! Que Jesus lhe pague o sacrifício.
Comprou, com o dinheiro esmolado, o caixão. Providenciou o enterro. Acompanhou-o até o cemitério. E, já tarde, regressou à casa. Tinha vivido um grande dia.
Sentou-se à entrada da porta. Lá dentro, os irmãos e o pai observam-no comovidos.
Em prece muda, agradeceu a Jesus.
Emmanuel lhe aparece e lhe sorri. O sorriso do seu bondoso guia lhe diz tudo. Chico o entende.
Ganhara o dia, pagara uma dívida e dera de si um testemunho de humildade, de gratidão e de amor ao Divino Mestre.
Que singelo e lindo exemplo de verdadeira gratidão! Chico não tinha nada a esperar em troca. Agiu de acordo com seu sentimento puro de amor e reconhecimento pelo que seu ex-patrão lhe fez um dia. Imagina-se, pelas condições do enterro, que o falecido nada lhe tenha feito de grandioso ou vantajoso do ponto de vista material, mas Chico, que tanto exemplificou o Evangelho, na sua franqueza amorosa, prestou ao seu amigo um último gesto de gratidão.
Por fim, vale lembrar que a gratidão cabe não somente ao que reconhecemos ter recebido nesta vida, pois, muitas vezes, estamos agradecendo às pessoas que tanto nos fizeram em vidas passadas e que agora temos a santa oportunidade de reconhecer.