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O impacto devastador das apostas no Brasil: vidas endividadas e jovens em risco

Uma pesquisa recente revelou um cenário preocupante no Brasil: quase metade dos apostadores online são jovens de 19 a 29 anos, muitos deles de classes sociais mais baixas e endividados. Apesar disso, continuam apostando, principalmente com cartão de crédito. Liberadas desde 2018, as apostas online só foram regulamentadas no final do ano passado.

As apostas têm se tornado um problema sério, até mesmo para crianças a partir de 6 anos, e estão arruinando vidas. É uma questão que se espalhou pelo país, afetando especialmente aquelas pessoas que não têm acesso à informação, o que torna a situação ainda mais preocupante.

Cerca de 7 milhões de brasileiros e brasileiras estão enfrentando dificuldades financeiras por conta das apostas. Para se ter uma ideia do impacto, 2 em cada 3 apostadores já deixaram de comprar itens essenciais para poderem continuar jogando. Em 2023, a população brasileira perdeu, aproximadamente, 24 bilhões de reais com apostas.

Uma pesquisa do Instituto Locomotiva (apud Faria, 2024) revelou que 46% dos apostadores são jovens de 19 e 29 anos e 34% pertencem às classes C, D e E. O mais alarmante é que 80% das pessoas que se consideram viciadas em apostas já pensaram em tirar a própria vida, o que mostra a gravidade desse problema e a urgência de buscar soluções.

A facilidade de acesso a essas plataformas, aliada à falta de informação e conscientização sobre os riscos do vício em jogos de azar, tem contribuído para a proliferação desse problema. Pessoas em situação de vulnerabilidade socioeconômica, com menor acesso à informação e educação, são especialmente suscetíveis a cair nessa armadilha.

A portaria publicada no último dia 31 cita regras que visam conter o jogo patológico a partir deste ano. A consultora Ione Amorim (apud Lacerda, 2024), do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec), explica que, com a falta de regulamentação desse mercado, muitas pessoas estão sendo influenciadas por influenciadores digitais a entrarem nesse mundo de jogos, o que tem gerado uma “epidemia” de problemas financeiros e de saúde mental. Estes ainda incentivam a criação da agiotagem digital, ou seja, grupos que oferecem empréstimos informais a juros abusivos, utilizando plataformas online para encontrar e interagir com pessoas em situação financeira vulnerável, para continuar apostando.

Influenciadores digitais são pessoas que, por meio de plataformas online, exercem influência sobre seu público, compartilhando conteúdo em diversas áreas, como moda, saúde, tecnologia, entre outras. Eles têm seguidores que confiam em suas opiniões e recomendações. Seu alcance pode variar desde pequenos grupos até grandes massas globais.

Medidas preventivas e socioeducativas

O gasto excessivo em jogos eletrônicos se encaixa diretamente no movimento de medidas socioeducativas preventivas que buscam diminuir o gasto excessivo em jogos eletrônicos antes que ele ocorra. Entre as medidas socioeducativas preventivas, destacamos três na sequência.

Educação financeira

A educação financeira é uma medida preventiva essencial. Os adolescentes precisam aprender sobre:

  • orçamento – como gerenciar suas finanças e entender os limites de gastos;
  • valor do dinheiro – a importância de gastar de forma responsável e como decisões financeiras impactam o futuro;
  • crédito – o uso consciente de cartões de crédito e outras formas de pagamento.

Controle parental

Os pais têm um papel crucial no controle dos gastos com jogos eletrônicos. Medidas que podem ser adotadas incluem:

  • monitoramento de compras – uso de ferramentas de controle parental que bloqueiam ou limitam compras em aplicativos e jogos;
  • estabelecimento de limites – conversas abertas sobre limites de gastos e as consequências de ultrapassar esses limites;
  • desconexão programada – ajudar o adolescente a reduzir o tempo gasto nos jogos e encontrar outras atividades prazerosas;
  • intervenções comunitárias – inserir o adolescente em programas de apoio comunitário ou atividades sociais fora do ambiente virtual, promovendo o desenvolvimento de habilidades interpessoais e emocionais.

Escolas e comunidades

As escolas e comunidades desempenham um papel fundamental no suporte ao adolescente e suas famílias. Podem promover:

  • grupos de discussão sobre o uso de tecnologias – fomentando um debate saudável sobre os limites de tempo e gasto nos jogos;
  • programas de conscientização sobre o vício em jogos – oficinas que abordem os impactos negativos do uso excessivo de jogos eletrônicos e como equilibrar o tempo online e offline.

É crucial manter a continuidade das ações preventivas e educativas relacionadas ao gasto excessivo em jogos eletrônicos. A implementação de medidas socioeducativas demanda persistência e compromisso, pois a mudança de comportamento leva tempo. Além disso, a inclusão do tema nos currículos escolares e o desenvolvimento de estratégias de prevenção contínuas são essenciais para enfrentar esse desafio de forma eficaz.

Referências

FARIA, Glauco. Apostas esportivas: um terço de quem joga está endividado, aponta pesquisa. Fórum, 15 ago. 2024. Disponível em: https://revistaforum.com.br/economia/2024/8/15/apostas-esportivas-um-tero-de-quem-joga-esta-endividado-aponta-pesquisa-163985.html. Acesso em: 30 set. 2024.

LACERDA, Nara. Bets e jogo do tigrinho impactam orçamento das famílias, saúde mental e economia do país. Brasil de Fato, 26 ago. 2024. Disponível em: https://www.brasildefato.com.br/2024/08/26/bets-e-jogo-do-tigrinho-impactam-orcamento-das-familias-saude-mental-e-economia-do-pais. Acesso em: 30 set. 2024.

MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO (MPU). Início. Disponível em: https://www.mpu.mp.br/. Acesso em: 30 set. 2024.

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