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irDescobertas em Marte, a origem do Universo e como a ciência pode influenciar na nossa compreensão espiritual foram alguns dos temas que tratamos em uma conversa com Alex Cavaliéri Carciofi (foto abaixo), professor na Universidade de São Paulo (USP) da área de Astrofísica. Especialista em modelos físico-matemáticos de discos circunstelares, com mais de 70 artigos publicados em revistas internacionais, ele é membro do Science Advisory Committee do Great Magellan Telescope, um dos maiores projetos internacionais da Astronomia moderna.
No nosso bate-papo, que transcrevemos abaixo, ele revela a complexidade do nosso lugar no cosmos e o potencial impacto das novas descobertas na consciência humana, nos trazendo uma visão fascinante sobre a interseção entre ciência e espiritualidade. Também enfatiza a importância do estudo e da busca pelo conhecimento, e não apenas no Espiritismo, mas também em diversas áreas do saber. “O progresso intelectual é essencial para a evolução moral da humanidade”, frisou.
“O bom espírita é aquele que estuda, e devemos buscar o conhecimento com dedicação, pois ele é fundamental para nossa evolução moral e intelectual”
Folha Espírita – Quais foram os avanços mais significativos da ciência recente? Quando a gente fala de descobertas de outros mundos e planetas habitáveis, o que você tem para nos contar?
Carciofi – Então, não faz nem 30 anos que a gente descobriu o primeiro exoplaneta, ou seja, um planeta que pertence a outro sistema solar cuja estrela central não é o nosso Sol. Isso aconteceu em 1995, por uma dupla de astrônomos europeus, e desde então a gente descobriu mais de cinco mil planetas.
FE – Quando falamos em exoplanetas, estamos falando, por exemplo, daqueles planetas que tanto se fala na Doutrina, que estão ligados à constelação de Capela?
Carciofi – Em Astronomia, uma constelação é apenas uma imagem projetada no céu, sem um significado especial. Trata-se de um agrupamento de estrelas onde os antigos identificaram um padrão e atribuíram a esse padrão diversos significados. A ciência encara hoje a constelação apenas como uma área na esfera celeste, como você chamaria um bairro de uma cidade, por exemplo. Então, quando falamos de Capela, que aparece no livro Exilados de Capela, nos referimos a um conjunto enorme de estrelas que estão nessa constelação, e não a uma estrela em particular.
“A ciência não é construída em termos de opinião. É isso que a faz ser poderosa, como ela é. Então, todo mundo tem o direito de acreditar no que quiser, mas colocar fatos científicos misturados com opinião pessoal, o que está acontecendo muito no mundo hoje, inclusive no meio espírita, é um equívoco”
FE – Como fazer a ligação disso com a Doutrina Espírita?
Carciofi – Eu acho que a ligação é simples de ser feita, porque a gente vê nos Evangelhos, por exemplo, que “há muitas moradas na casa do meu pai”, e nós temos esse conceito de reencarnação. Temos a ideia de que a alma progride em diferentes planos materiais. E eles estão adequados ao nível de evolução das almas que lá habitam. Considere o número de pessoas encarnadas hoje, que é por volta de 8 bilhões. Se olharmos para o passado, quantas dessas pessoas tiveram a oportunidade de reencarnar aqui na Terra? Não tem como todo mundo que está vivo hoje no planeta já ter reencarnado aqui muitas vezes, como o conceito de evolução na Doutrina Espírita exige. Então, se você admite os princípios espíritas, é natural, portanto, também admitir que uma parte dos Espíritos hoje encarnados aqui teve suas experiências reencarnartórias em outros lugares.
FE – Como você consegue relacionar a ideia científica de múltiplos mundos com essa concepção espiritual, quando a gente fala que está lá em O livro dos Espíritos que “há muitas moradas na casa do meu pai”? Como cruzar essas duas informações hoje?
Carciofi – É possível no plano das ideias do Espiritismo, que tem premissas. Eu não gosto de usar a palavra “dogma” porque, por definição, dogma não se demonstra, mas a Doutrina tem premissas que ainda não foram comprovadas pela ciência. Essas premissas ainda precisam ser comprovadas, mas dentro delas faz sentido, como eu acabei de falar, que você tenha múltiplos mundos habitados. Então, acho que para responder à sua pergunta, como fazer essa ponte espiritualidade-ciência, talvez a Astronomia ajude num futuro um pouco mais distante. Estamos muito longe de conseguir, por exemplo, detectar vida, muito menos civilizações, nos exoplanetas que foram descobertos. Não temos equipamentos para isso hoje. Temos o James Webb flutuando no espaço a um custo de 10 bilhões de dólares. E o que ele já foi capaz de fazer? De identificar moléculas específicas na atmosfera de alguns exoplanetas. É impressionante isso, um feito científico notável. É bem possível que evidências de vida em um dos exoplanetas conhecidos seja apresentada num futuro próximo. Já estudarmos a natureza dessa vida, as condições locais e se existe vida inteligente ou não é um salto muito grande. Então, essa ponte em particular entre Astronomia e Espiritismo vai ser feita, eu acredito, mas ela ainda precisa de muito desenvolvimento tecnológico.
“Imagino que a ponte entre ciências e espiritualidade pode ser feita de formas mais simples, com as ciências que nós temos na mão. Por exemplo, estudos da fisiologia da mediunidade, que já existem vários por aí. Eu acho que esse é um caminho muito interessante. Estudos que tentam demonstrar a reencarnação por meio de memórias de vidas passadas apresentadas por crianças. Nesses caminhos, estamos usando recursos que temos em mãos e métodos experimentais que podemos perseguir. A Astronomia deslumbra um caminho futuro, que é a descoberta desses exoplanetas e eventual anúncio de que lá tem vida. Essa eventual descoberta pode demorar semanas, meses ou uma década ou mais. Temos muito trabalho sendo feito nesse sentido, mas é tecnicamente muito difícil”
FE – Vamos ter provas de existência de vida fora da Terra?
Carciofi – O Brasil hoje faz parte de um consórcio internacional para a construção do GMT, que é o Great Magellan Telescope, o Telescópio Gigante de Magalhães. Eu tenho a honra de ter um assento no conselho científico desse instrumento, que é o Science Advisory Council. Ele vai estar pronto em 2032 com um investimento de 2,5 bilhões de dólares. Esse instrumento vai ter um conjunto de espelhos que, juntos, vão ter 26 metros de diâmetro, maior que uma piscina olímpica. Você imagina? É necessário um prédio de 22 andares para abrigar essa grande máquina. Com ela a gente espera, por exemplo, ter a capacidade de tirar espectro de exoplanetas, revelando as propriedades da luz refletida por eles, que pode ter sido modificada pelas condições locais da atmosfera, por exemplo. Com isso, poderemos identificar moléculas que existem naqueles exoplanetas e eventualmente ligar aquilo à presença de vida. Então eu acho que, sim, nós vamos ter prova da vida extraterrestre num futuro próximo. Creio que isso vai acontecer em breve, mas ainda vai ser muito tênue, vai ser muito frágil, vão ser apenas evidências indiretas. Não temos, ainda, como imaginar tirar uma “foto” de um planeta com seus continentes, estradas, cidades. Essas coisas não vão acontecer porque a ciência ainda está muito longe desse nível de tecnologia.
“Quem descobrir a natureza da matéria escura, e em algum momento acredito que isso vai acontecer, certamente vai ganhar o prêmio Nobel”
FE – Professor, fazendo novamente uma conexão com o que conhecemos, ainda com essas dificuldades tecnológicas que temos, o que se sabe sobre Marte? Porque também é outro planeta muito citado na Doutrina Espírita, sobretudo no livro Cartas de uma morta, psicografado por Chico Xavier pelo Espírito Maria João de Deus, a mãe do médium. Tem coisas muito interessantes, como, por exemplo, a questão que ela faz na narrativa do acesso à água, que ela não fica na superfície. Outra narrativa é sobre as habitações em Marte estarem em um plano acima da superfície, ou seja, ela coloca que a vida é mais aérea. Tem alguma constatação do que já foi feito com Marte, do que já foi observado, algo que possamos tentar avaliar hoje ainda?
Carciofi – Marte é o segundo planeta do Sistema Solar mais bem estudado depois da Terra. Já se fotografou sua superfície com uma resolução melhor que um metro por pixel. O planeta inteiro! Isso quer dizer que qualquer coisa material que tivesse ali a gente veria com uma precisão quase tão boa quanto o Google Earth. Com Marte, temos o mesmo nível de definição e nada foi encontrado.
FE – Então, o que sabemos hoje do ponto de vista de ciência?
Carciofi – Marte é um planeta que no começo do sistema solar, há 4 bilhões de anos, teve uma atmosfera mais densa do que hoje. Tinha água, ciclo das chuvas, tanto que se vê resquícios do que outrora foram rios, lagos, oceanos. Temos evidência, por exemplo, de deslocamentos de terra, de erosão por água. Isso tudo foi diagnosticado com muita clareza, mas a água no estado líquido ainda não foi encontrada. A água existe em Marte, sim, tanto que quando é inverno, por exemplo, no Hemisfério Sul, forma-se uma calota polar ali como a nossa, de gelo; parte é gelo de água, parte é gás carbônico, mas tem gelo lá. Mas água no estado líquido não foi encontrada, assim como vida. A ciência hoje diz que Marte é um ambiente estéril. Não há nenhuma evidência de vida no planeta. Como harmonizar isso com a narrativa da mãe do Chico Xavier, por exemplo? É um desafio entender se ela falava de forma alegórica ou se ela falava talvez de planos espirituais, se ela falava de uma vida que não é a vida que estamos manifestando em corpos físicos, mas talvez no plano espiritual. Talvez ela se referisse a isso, mas não está claro, porque aí existe um desencontro entre a ciência e o Espiritismo.
FE – Como astrofísico, melhor do que ninguém você pode explicar essa diferença de matéria que existe entre a nossa e o plano espiritual, muito longe de se detectar isso pela ciência, né?
Carciofi – Muito longe, por um lado. Por outro, a gente sabe que existe matéria aqui entre nós que não detectamos. Por exemplo, quando a gente estuda a Via Láctea, o que ela é? É a nossa galáxia. Levou muito tempo para a humanidade reconhecer que o Universo é feito de grandes “universos-ilhas”, ou galáxias, que são aglomerados de estrelas, gás, poeira, elementos que compõem essas grandes estruturas. Uma grande galáxia, como a nossa, pode chegar a ter quatrocentos bilhões de estrelas. A nossa Galáxia tem por volta disso, 300 a 400 bilhões de estrelas. Leva-se 2,5 milhões de anos para se conseguir percorrer o espaço entre a Via Láctea e a galáxia de Andrômeda, que é a galáxia gigante mais próxima de nós. Para além desse grupo local de galáxias, a estrutura no Universo já foi mapeada com uma precisão e detalhes impressionantes. Temos estudos bastante claros, resultado de milhares de astrônomos trabalhando ao longo de muitas décadas, que conseguiram mapear o Universo. Quando você pega uma estrutura como a nossa galáxia, como fazer para estimar sua massa, ou seja, a quantidade de matéria que ela tem? Pela gravidade. E quando a gente junta tudo que a gente consegue enxergar com os telescópios, conseguimos explicar apenas 10% da massa total da Via Láctea, de forma que 90% de massa da nossa galáxia é formada por algo que ainda não identificamos e que não conseguimos explicar o que é ainda. A isso a ciência dá o nome de matéria escura.
“Imagine se você desenhasse um quadradinho de um centímetro de lado na sua pele, na sua mão. Estima-se que está passando, por esse quadradinho, bilhões de partículas de matéria escura por segundo! Existem inúmeros experimentos hoje em dia sendo conduzidos nos grandes laboratórios do mundo para tentar detectar o que é essa matéria escura. Mas ainda não há nenhuma pista. A ciência sabe que ela existe, mas ainda não a explica. Então, existe um aspecto desconhecido da nossa natureza material. É matéria porque é gravidade, e é gravidade porque a gente pesa, mas a gente não explica”
FE – Começar a tentar entender um pouco mais do fluido cósmico universal seria uma pista para o futuro?
Carciofi – Com certeza é uma pista. O Espiritismo, nos seus preceitos, diz que existem três princípios no Universo: matéria, Deus e Espírito. E a matéria se organiza inicialmente em um estado que é chamado fluido cósmico universal, a partir do qual tudo se organiza. Então, é possível, sim, admitir que você tenha matéria num estado visível, que é elétrons, prótons, nêutrons, múons, píons, quarks e tudo aquilo que a ciência já descreve e mede. Mas como vimos, essa matéria visível é apenas uma pequena fração do Universo. Então, pode-se supor que o princípio universal poderia se estruturar em um tipo de matéria que a ciência ainda não conseguiu identificar e medir diretamente. E a partir daí, pode-se especular sobre matéria espiritual, por exemplo, mas é importante frisar que tudo isso é especulação sem base científica sólida.
“A gente só explica 10% da nossa galáxia. Na verdade, quando a gente olha para o Universo todo, indo além das galáxias, é ainda menos, por volta de 5% da matéria do Universo é aquilo que chamamos de matéria bariônica, que é um termo técnico para descrever a matéria que conseguimos cheirar, tocar, interagir, colocar no laboratório, fazer experimentos. O resto dos 95% do Universo ainda não podemos descrever a partir de coisas que conhecemos”
FE – O que há na literatura espírita e que a ciência já conseguiu confirmar?
Carciofi – Temos grandes instrumentos sendo construídos, como o GMT, pois estamos tentando responder à pergunta sobre como o Universo primordial surgiu. Como a gente consegue estudar o passado na Astronomia? A gente tem que olhar mais distante, e quanto mais distante olhamos, mais para o passado a gente vê, tendo em vista o tempo que a luz levou para vir daqueles objetos até nós. James Webb, por exemplo, está tendo vislumbres daquelas que foram provavelmente as primeiras galáxias do Universo, pois ele consegue observar o Universo muito longe e, portanto, muito no passado. Esses grandes telescópios que estão sendo construídos, com grandes áreas coletoras, vão poder ir ainda mais longe do que James Webb. Então, acho que uma das grandes áreas que a gente vai ver grande progresso nos próximos anos, ou na próxima década, com certeza, é a Cosmologia. Como o Universo surgiu, se estruturou, o Big Bang, o que aconteceu entre Big Bang e formação das primeiras coisas, estrelas, galáxias e a origem dos elementos químicos. Porque quando a gente fala em história do Universo, a gente está falando da história daquilo que foi responsável por existirmos. Quando o Universo surgiu há 14 bilhões de anos, aproximadamente, não existiam os elementos químicos de que somos feitos. Pergunte para qualquer químico como é que eu faço um ser vivo com hidrogênio e hélio? Ele vai falar “boa sorte, não tem como, nem água você faz”. E aí a gente entende que o Universo é vivo, no sentido de que ele, usando um termo bem espírita, é um cadinho onde, nos seus primeiros bilhões de anos, os elementos químicos necessários para a estruturação de vidas complexas como a nossa foram forjados. Olhe ao redor e você verá coisas (plantas, seres vivos, pessoas, prédios) que são feitas de uma química muito mais complexa do que existia no Universo primordial. Então, quando Carl Sagan cunhou aquela frase famosa “nós somos poeira de estrelas”, podemos entendê-la literalmente. Todos os átomos de ferro que existem na sua circulação sanguínea, por exemplo, tiveram origem no núcleo de uma grande estrela massiva que explodiu e deixou de existir há muito tempo.
“Então, quando olhamos para a Astronomia hoje, ela nos permite até uma aventura do ponto de vista da cognição e da filosofia, de que nós estamos conectados de uma forma muito profunda com todo o Universo. Existe conexão muito íntima entre o nosso corpo físico, o veículo que experimentamos como seres conscientes, e os primórdios do Universo. Existe um conjunto de processos extremamente ricos e complexos que nos leva do começo até aqui. E a Astronomia já conseguiu contar boa parte dessa história. Tem muitas lacunas ainda a serem preenchidas, e é isso que os grandes instrumentos e os grandes telescópios planejados aí para os próximos anos ou décadas vão responder”
FE – Como que reagiríamos enquanto humanidade se tivéssemos a comprovação imediata de uma vida extraterrestre aqui conosco?
Carciofi – As pessoas vão ter que rever a sua visão de mundo. As que já estão propensas a esse tipo de abertura da mente vão achar fascinante, vão refletir, achar maravilhoso e crescer a partir disso, mas uma parcela importante da população não vai mudar seu ponto de vista. Veja, por exemplo, que hoje existem movimentos antivacina, ou que acreditam que a Terra é plana, negando fatos científicos muito básicos. Essa negação é, muitas vezes, ancorada em visões religiosas equivocadas. Eu não acredito, portanto, que um fato como esse, que para mim seria maravilhoso e de grande motivação como cientista, vai ser aceito como verdade por muitos. Esses vão simplesmente falar que é fake news.
“As pessoas não conhecem ciência o suficiente para entender como é o processo de criação do conhecimento na ciência. Então o fato de vermos pessoas que são antivacina ou terraplanistas hoje em dia, com todo o respeito a todos e suas expressões possíveis, simplesmente mostra que existe uma grande ignorância científica na humanidade. Kardec, se vivo hoje, seria uma voz muito eloquente contra isso, porque ele era um cientista e, em muitos campos, autodidata. Quando ele diz que o Espiritismo tem de andar de mãos dadas com a ciência, ele nos dá uma rota a seguir. Ele fala: ‘olha, a ciência é um ponto de balizamento importante para a humanidade hoje. E não pode ser deixada de lado’”
FE – Existe a possibilidade de a ciência se reconectar, por meio de descobertas, de fatos, de tecnologias, com a espiritualidade, com essa visão transcendente do mundo, do Universo? Vai chegar um momento em que vai se constatar que houve ali uma causa inteligente capaz de orquestrar tudo isso e, de repente, a dúvida sobre a existência de Deus ou não existência de Deus deixará de ser algo que você acredita, mas algo que foi comprovado?
Carciofi – Uma pergunta bem difícil de responder, porque é difícil fazer previsões. Acho que é importante a gente lembrar que a ciência é feita de seres pensantes. O paradigma científico hoje em dia é que esses seres pensantes são basicamente um conjunto de células e neurônios, e desse conjunto de células e neurônios surgem coisas como personalidade, ideias e pensamentos. Nós, espíritas, temos uma outra proposta, da mesma forma que os hindus tiveram há três mil anos de que existe um princípio consciente que está fora da caixa craniana. E qual é a origem da consciência? Existem muitos livros sendo escritos sobre isso, inclusive tratando de temas complexos como a física da consciência. Muitos cientistas estão tentando descrever o que é o fenômeno da consciência. Uns falam que é um “epifenômeno do cérebro humano”, mas, a meu ver, isso é simplesmente usar palavras bonitas para descrever o que ainda não se compreende. Então, pode-se assumir que, se o Espiritismo estiver certo e existir o princípio espiritual como um dos princípios do Universo, então a consciência é um princípio do Universo, e não a manifestação material de células ou moléculas organizadas de certa maneira. Eu acho que esse é um dos grandes caminhos da espiritualidade hoje. A ciência deve tentar desvendar, usando os métodos que temos à disposição, qual a natureza da consciência. E é possível que a resposta lá na frente seja surpreendente e a ciência seja forçada a reconhecer que ela esteve limitada em sua observação do mundo natural. O mundo natural não é composto apenas daquilo que vemos e dessas coisas que a gente ainda não consegue detectar, como, por exemplo, a matéria escura, mas talvez haja outros princípios governando ou participando do Universo. Convido todos a meditar sobre a importância do estudo. A gente só pode dizer que sabe uma coisa a partir do momento que a gente experimenta aquela coisa. O conhecimento verdadeiro é experimentado, e não apenas ouvido, lido e coisas assim.
“Ao buscarmos conhecimento, estamos não apenas nos aprimorando intelectualmente, mas também nos preparando para uma evolução moral que nos liga a um propósito maior no Universo”