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ir“Por que vês tu, pois, o argueiro no olho do teu irmão, e não vês a trave no teu olho?” (Mateus 7, 3). A criatura emite opiniões e faz comentários sobre aquilo que conhece e sabe mais, diante da familiaridade com os assuntos e convivência no cotidiano. Portanto, é fácil compreender o porquê de tantas críticas e observações maldosas existentes no meio social em que vivemos, pois são esses sentimentos que ainda alimentamos em nosso coração. “A boca fala daquilo que o coração está cheio” (Mateus 15, 18).
Por possuirmos tantos defeitos e cometermos inúmeras faltas, somos especialistas em perceber as falhas do nosso irmão. Assim, aquele que mais comenta e destaca os defeitos do próximo, por certo, é o que mais os possui, uma vez que se identifica plenamente com eles. O engenheiro hábil fala com propriedade sobre edificações. O especialista sobre informática discorre, com conhecimento de causa, sobre computadores. O médico habilidoso discursa, com segurança, sobre os métodos mais eficazes para tratamento de saúde. Já o homem inferior e repleto de imperfeições, com maestria, gasta seu tempo observando e destacando o lado negativo da vida alheia.
A nossa atual condição evolutiva é tão precária que se nos propuséssemos, realmente, a combater as más tendências que ainda carregamos no âmago, sem dúvida, não sobraria tempo algum para bisbilhotarmos o comportamento de ninguém. No entanto, o que fazemos com mais frequência é exatamente o inverso; cuidamos mais de observar como vivem aqueles que se relacionam conosco do que trabalhar, dedicadamente, no combate ao orgulho que insiste em viver em nossa intimidade.
Temos imensas dificuldades em reconhecer as virtudes e as qualidades do nosso próximo. Isso requer humildade, compreensão e desprendimento, aquisições que ainda não possuímos. Em inúmeras oportunidades, quando identificamos a grandeza dele, temos que admitir a sua superioridade em relação a nós. E o orgulho que ainda carregamos nem sempre permite isso, assim, preferimos difamá-lo ao invés de exaltá-lo.
Quando não temos a força necessária para acendermos uma lâmpada que possa clarear o nosso caminho, preferimos quebrar as luzes que iluminam as estradas alheias, para que todos fiquem na escuridão. Na maioria das vezes, é assim que age a criatura humana. É bem mais fácil e rápido destruir do que construir. Uma marreta em mãos desgovernadas destrói, muitas vezes, em pouco tempo, aquilo que levou séculos para ser construído.
“Quem não tiver pecado, atire a primeira pedra” (João 8, 7). Com essa advertência, Jesus ensinou a compreensão e a tolerância de uns para com os outros, destacando a necessidade da indulgência, do perdão e da solidariedade no meio social, uma vez que todos nós queremos uma vida de paz e serenidade e, obviamente, não lograremos alcançar essa condição se continuarmos a guerrear com aqueles que caminham ao nosso lado.
Nosso irmão quer ser feliz, nós também desejamos incansavelmente a felicidade, por que, então, não trabalharmos acirradamente para obtermos tão esperada conquista? Os problemas do próximo são do próximo, não são nossos, portanto cuidemos daqueles que nos pertencem, resolvendo-os da melhor maneira possível. Só devemos nos preocupar com os irmãos de jornada quando for para ajudá-los, somente nesses casos.
Direcionemos o foco das nossas atenções para as imperfeições que ainda nos incomodam e cuidemos de tirar “o homem velho que ainda mora dentro de nós”, conforme nos orientou Paulo de Tarso, fazendo nascer uma criatura nova, ajustada e delineada aos moldes do Evangelho de Jesus Cristo.
Antes de identificarmos os defeitos alheios, procuremos combater os nossos.