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Coma, amnésia e Espiritismo: realidades conciliáveis?

Como espírita e médico neurologista (nesta ordem), uma condição clínica geralmente grave, como o coma de pacientes em UTI, sempre me chamou a atenção. Do ponto de vista puramente material, o coma pode ser diagnosticado quando uma pessoa não demonstra percepção e reação com o meio ambiente. Em poucas palavras, o indivíduo mantém as funções neurovegetativas – como batimento cardíaco e respiração –, mas não exibe reação a estímulos visuais, auditivos e táteis. É comum, nesse cenário, que os médicos testem a reação dos pacientes em coma por meio de estímulos dolorosos, não obtendo, a seu turno, qualquer expressão facial de desconforto ou esboço de retirada da região exposta. Obviamente, não há ação de medicamentos sedativos por um período mínimo antes da avaliação.

Perguntas podem surgir: quais as causas do coma? O coma pode ser reversível? Sempre indica uma doença grave? É sinônimo de morte encefálica? Discorreremos, por um momento, sobre esse fascinante tema: o coma pode ter várias causas, entre elas condições clínicas como infecções generalizadas, distúrbios hidroeletrolíticos (aumento ou queda da concentração de eletrólitos no sangue), insuficiência renal ou hepática, uso de medicações com perfil sedativo, entre outras. A inconsciência deriva de uma patologia potencialmente reversível, e sua correção pode levar ao despertar do paciente. Recebe o nome de delirium hipoativo pelos médicos.

Por outro lado, o coma pode resultar de lesões encefálicas diretas, como hipoxia (falta de oxigênio), intoxicações, meningites, hidrocefalia, acidente vascular cerebral, tumores e traumas. Algumas dessas situações são reversíveis, outras, infelizmente, não. Se o centro de controle neurovegetativo do encéfalo não for comprometido, o paciente pode permanecer vivo, respirando sem aparelhos, mas sem contato elaborado com o ambiente; pode mesmo ter abertura e fechamento espontâneo dos olhos e esboçar alguma reação a estímulos dolorosos. Essa condição é chamada de estado minimamente consciente ou coma vigil. Contudo, se o paciente permanecer vivo por conta do suporte ventilatório de aparelhos e for comprovada a ausência de atividade elétrica cerebral, é constatada a morte encefálica – irreversível, motivo da suspensão dos cuidados intensivos e transplante de órgãos, se não houver contraindicações.

Portanto, um paciente que enfrentou um coma pode recobrar a consciência em determinado momento, mas isso não significa que ele retomará o contato sem algum prejuízo, seja motor, seja cognitivo. Todo esse preâmbulo tornou-se necessário em face de relato recente publicado por alguns meios de comunicação que reproduziram uma reportagem do jornal Messaggero, da Itália, no final do mês de outubro de 2024. É descrito um caso clínico inusitado: um paciente italiano que fora vítima de acidente automobilístico em 2019 ficou em coma alguns dias e quando despertou acreditava viver em 1980. Segundo as fontes, o paciente teria esquecido tudo o que havia ocorrido a partir do dia 20 de março de 1980 até o presente, incluindo vínculos familiares, como sua esposa e filho, que nasceu depois desse período. Considerava-os como estranhos, não demonstrando qualquer relação afetiva com eles. Após sua recuperação, encontrou trabalho na manutenção de uma escola, mas teria tido “uma nova vida” a partir de seu despertar.

O caso desse italiano chama a atenção porque passa a impressão de que suas outras funções cognitivas se mantiveram preservadas. Convenhamos que se um trauma foi o motivo de seu coma é porque foi grave e deve ter-lhe causado outras sequelas neurológicas. Mesmo assim, assumindo que apenassua memória das últimas décadas tenha sido comprometida, surgem algumas dúvidas, incluindo como ele poderia se comportar daquele momento em diante, uma vez que vários elementos que delinearam sua personalidade, suas inclinações, suas paixões e aversões ficaram pelo caminho. Seria uma espécie de teletransporte sem escalas pelo tempo, saindo de 1980 para 2019, restando rugas e cabelos brancos, notando a ausência de familiares, amigos e toda a atmosfera da época.

Da perspectiva espiritual, onde esteve o perispírito desse paciente? Teve ele experiências extrafísicas, como as relatadas durante o sono, ou também se manteve inerte como seu corpo? Obteve lições que auxiliaram em sua evolução? Sofreu, ciente de sua inatividade? Creio que não há uma resposta única para todos os casos. Os Espíritos, ao encarnarem, possuem diferentes estágios de evolução e compreensão da dimensão extrafísica. Se o indivíduo for ainda muito apegado à realidade e aos valores materiais, seu referencial será seu corpo físico – ele terá a percepção de um aprisionamento, sofrendo as impressões rudimentares e frequentemente desconfortáveis de um meio estagnado. Isso poderia servir-lhe de expiação e oportunidade de reflexão.

Entretanto, se o Espírito encarnado for mais evoluído, pode relacionar-se com outros de sua mesma condição, recebendo amparo e elucidação. Seria uma espécie de entreposto, não lhe causando tanto sofrimento como seria esperado. O período de coma, ainda, pode ser visto como uma fase de recuperação ou tratamento espiritual. O Espírito pode estar passando por um processo de cura ou aprendizado no plano espiritual, assistido por mentores e guias espirituais. Embora o Espírito possa estar consciente em algum nível, a comunicação com o mundo físico é geralmente limitada. No entanto, há relatos de experiências em que o Espírito consegue perceber a presença e as emoções de seus entes queridos ao seu redor.

Algo curioso ainda: o lapso temporal e a convicção do paciente em questão, que acreditava ainda viver em 1980. Há algumas ideias interessantes para justificar esse fenômeno; uma delas é que a percepção de tempo é um construto do ser humano, relativo, interpretativo. A ciência moderna já confirmou essa impressão, por meio da física quântica. Logo, um Espírito que suportou a experiência de coma poderá convencer-se de que não se passaram mais do que alguns dias ou meses. Outro, contrariamente, relatará a experiência de mais tempo do que o referencial terrestre. São muito comuns as comunicações de Espíritos desencarnados há séculos que acreditam ainda viver no tempo em que deixaram o envoltório material. Há relatos, não obstante, de indivíduos que reencarnam muito rapidamente e sem uma experiência clara do plano espiritual. Novamente, cada caso é singular.

Sob a óptica espiritual, há sempre a possibilidade de reflexão e aprendizado, mesmo em situações tão penosas, tal o coma e suas possíveis sequelas neurológicas. Apesar de limitada compreensão dos processos mentais e emocionais que ocorrem durante o coma, é certo que há a oportunidade de reparação, depuração e aprendizado espirituais, em maior ou menor escala. Independentemente da deficiência advinda do coma, como a amnésia lacunar descrita no caso acima, existe a possibilidade de evolução: o paciente pode não reconhecer seus familiares próximos, entretanto, pode reiniciar o processo de aproximação de Espíritos que foram designados para trilharem juntos a passagem pela Terra. Eles, por sua vez, precisarão exercer o amor verdadeiro ao acolhê-lo, mesmo com o açoite constante do esquecimento de todas as experiências que tiveram até ali, exercendo abnegação e devotamento.

O que do ponto de vista do ser encarnado parece uma eternidade não passa de um piscar de olhos diante da perspectiva do Criador.

Caio Grava Simioni é médico espírita e neurologista do Grupo de Cefaleias do Hospital das Clínicas da FMUSP; médico colaborador do Lar do Alvorecer Marlene Nobre.

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