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irAo final da tarde, enquanto atendia pacientes da demanda espontânea no Centro de Saúde, atendi Antônio, um homem por volta dos seus 60 anos, procurando auxílio para uma dor de cabeça. Caracterizou-me bem a dor, explicou o que já havia tomado e, quando perguntei desde quando sentia esse incômodo, compartilhou a seguinte história:
– Doutor, semana passada, fui assaltado enquanto voltava para casa e levei uma coronhada bem aqui onde dói na cabeça. Foi só isso – disse algo ansioso. – Depois disso, as coisas ficaram difíceis, não consigo dormir bem, lembrando do que aconteceu.
Escutei sua história, observando como a contava e na riqueza de detalhes.
– Imagino que esteja muito difícil lidar com tudo isso – estimulei para que continuasse.
Contou de suas perdas financeiras, carro, objetos que estavam dentro do carro, documentos etc., mas nada disso parecia o incomodar verdadeiramente, o que constatei em seguida:
– Mas sabe o que está mesmo tirando o meu sono? Eles eram tão jovens… Três jovens, ativos. Não consigo ter raiva deles, sabe-se lá o que eles já passaram na vida… Não vivi a vidas deles, né?
– Se o senhor não sente raiva, então qual é o sentimento? – Perguntei.
– Acho que é tristeza. Fico muito triste de ver essas coisas, não porque perdi meus bens materiais, mas por pensar que eles aprenderam a fazer isso, talvez até por necessidade, dependência, sei lá… Não posso julgar.
Sentia muita força em suas palavras e uma real preocupação, como se a história estivesse ainda inacabada. Propus que tentássemos concluí-la:
– Bom, Antônio, se nesse instante você tivesse a oportunidade de ter um pequeno diálogo com estes três rapazes, o que você gostaria de dizer a eles?
Parou por alguns segundos, olhando para o chão, então, levantando seu olhar, disse:
– Primeiro, que eu os perdoo. Não tenho raiva do que fizeram. Segundo, queria que eles se sentissem amados, verdadeiramente amados. Se não tiveram alguém que os amasse nesta vida, que pelo menos pudessem sentir um amor superior, como o de Deus.
Nesse instante, fiquei muito emocionado, com os olhos marejados, presenciando tamanha empatia em poucas palavras. Um homem que, mesmo sendo vítima de violências, pensava em seus algozes com afeto, desejando que se sentissem amados. Impossível não lembrar de Jesus em tantas de suas passagens e histórias, sempre exemplificando no dia a dia seus ensinos amorosos, mesmo em situações extremas como a do seu ato máximo no calvário, desejando perdão aos seus agressores. Todos esses pensamentos se passaram em segundos em minha mente, no intervalo da fala de Antônio.
– Muito bonito e inspirador o que você falou, Antônio. E de onde você tira inspiração para agir desta forma com esses jovens? – Questionei.
– Jesus. Sou pastor, doutor. Estudo o Evangelho desde que me entendo por gente. Mas sabe, não é na Igreja, enquanto eu estudo, que eu aprendo com o Cristo. É nessas horas em que somos chamados ao testemunho que a lição é fixada. Na vida mesmo.
Nesse instante, senti meu corpo vibrar, um arrepio nos braços e uma vontade grande de chorar, mas me contive para concluir a consulta, prescrever os analgésicos para a dor de cabeça e agradecer ao sr. Antônio por ter compartilhado aquela história comigo. Despedimo-nos, e a minha sensação foi de que aquela consulta também foi minha.
Vinha passando por um período distanciado da minha espiritualidade, atribulado com inúmeros compromissos do trabalho e outras pendências da vida adulta. Esse encontro despertou em mim a necessidade de me reaproximar da minha vivência religiosa, me aproximar do Cristo, nosso irmão, amigo, guia e modelo.
Trabalhar com gente é assim… vemo-nos nos outros e os outros se veem em nós. Esses processos de transferências e contratransferências podem se dar de diversas formas, ajudando ou atrapalhando a relação. Nesse dia, em especial, me vi em Antônio e senti o Cristo de pertinho, como ele sentia. Espero um dia também conseguir construir essa relação íntima com Ele, por meio do meu esforço diário em ser um bom cristão.
Higor Rodrigues Machado é médico de Família e Comunidade pelo Hospital Metropolitano Odilon Behrens, em Belo Horizonte (MG), e ex-coordenador do DA AME-Brasil.