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irArthur Fernandes da Silva
Dona Bete foi encaminhada à enfermaria por estar se sentindo muito fraca. Deveria receber nova dose de quimioterapia para o câncer do qual vinha se tratando há um ano, mas naquele dia não iria aguentar. Com a ajuda de algumas medicações, teve uma boa melhora, tanto que conseguiu passear até a área externa, junto com as profissionais de educação física. Era dia de sol e ela, pequena como era, repousava numa cadeira, ocupando quase metade do assento. Falava baixo e num tom calmo, geralmente acompanhado de um sorriso. Era cuidada pela sua mãe, que estava sempre ao seu lado.
Dona Bete estava preocupada porque havia surgido uma nova dor na barriga e tinha medo de ser uma nova metástase, uma ramificação do seu tumor. Quando me aproximei, fui recebido com um sorriso:
– Oh, doutor, me desculpe. O senhor estava tentando me atender desde antes, né? Primeiro foi a estudante, depois a enfermeira, depois as meninas aqui passaram na frente. Mas chegou a sua vez!
– Que bom! E como tem se sentido hoje?
– Melhorzinha. Aperreada com essa dor aqui na barriga, que vem de vez em quando, mas é forte. Tô esperando uma consulta nova com meu médico do câncer pra gente ver o que vai fazer.
– Entendi. E o que vocês conversaram da última vez?
– Que a doença já tinha se espalhado, né, o senhor sabe, para a cabeça. E agora eu tenho que fazer o banho de luz, para ver se diminui o tumor. Mas essa coisa da barriga ainda não sei.
– E alguma coisa tem passado pela cabeça?
– Sempre passa, né, doutor? A gente que tem essa doença sempre pensa nela – comenta com os olhos cheios de água. – Meu tumor piorou?
– O que você acha?
– Eu acho que sim. Eu tenho para mim que ele se espalhou para o fígado também e agora tá judiando em outro canto além da cabeça e do pulmão.
– Infelizmente, isso que você percebeu é verdade: a doença avançou, além do pulmão e do cérebro, para o fígado também. Essa é a causa das dores que você vem sentindo.
– Eu sabia… Bem que meu coração dizia isso. Ainda bem que o senhor me contou. Pelo menos dessa vez eu não briguei com Deus.
– Quer me contar mais um pouquinho sobre isso?
– Ah, eu era uma pessoa muito ruim, doutor. Era não, ainda sou, mas tô tentando melhorar. Além de beber, que eu já parei, e fumar muito, que ainda dou um trago de vez em quando e tô tentando parar, eu brigava com Deus. Julgava ele. Tudo por causa dessa doença. E eu sofria muito, porque afastava Deus e sentia um vazio. Imagina uma vida sem Deus e cheia de doença? Pois então, era assim.
– E isso tem mudado?
– Oh, e se tem! Eu fiz as pazes com Deus e entendi que Ele não é julgador, é um pai. Agora Ele faz parte da minha vida de novo.
– E como você vê essa doença agora?
– Agora… – já são vários olhos cheios de água, os dela e os meus – agora eu sei que ela faz parte do meu fardo, inclusive essa piora do fígado. Se Deus me permitiu, é porque tem alguma coisa para aprender com ela, né? E Ele vai me ajudar a ver.
– Como essa ideia te faz sentir?
– Uma paz. Uma paz em Deus.
Arthur Fernandes da Silva é médico da Família e Comunidade, paliativista; mestrando em Cuidados Paliativos. Atua em Brasília (DF).