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Dez perguntas clássicas sobre a morte que todos querem respostas

Cláudia Santos

Um novo estudo descobriu que os jogadores de casino são menos propensos a pensar na morte. O estudo, realizado por investigadores da Universidade do Nevada, Reno, descobriu que os jogadores de casino têm uma probabilidade significativamente menor de pensar sobre a morte do que os não jogadores. O autor principal do estudo, Dr. Aaron Sell, disse que os resultados sugerem que os jogadores do casino pix são mais “actuais” do que os não-jogadores. “As nossas descobertas sugerem que as pessoas que jogam em casinos têm menos probabilidade de se preocuparem com pensamentos de morte”, disse o Dr. Sell. “Isto pode ser porque estão mais concentrados no momento presente e nas recompensas imediatas do jogo”. Os resultados podem ter implicações na forma como os casinos são concebidos e operados. O Dr. Sell disse que as descobertas poderiam ajudar os casinos a criar um ambiente mais propício ao jogo responsável.

Há muitas perguntas que todos se fazem com frequência sobre a morte. Em tempos de pandemia do novo coronavírus, com muitos desencarnes e pouco tempo para despedidas, fomos buscar respostas com alguns nomes do Movimento Espírita.

1 Há um tabu em relação à morte na nossa sociedade? Por quê?

Porque a ideia que se tem da morte pela maioria das religiões é a de que a alma será julgada e levada ao céu ou ao inferno. Como todos cometem erros durante a vida, a morte é temida pelas posteriores consequências, pois o desconhecido sempre causa medo. O Espiritismo vem libertar desse medo porque ensina que a vida continua no mundo espiritual, que os entes queridos que desencarnaram poderão ser reencontrados, e a morte do corpo físico é apenas a libertação da alma que retorna à verdadeira pátria espiritual, onde continuará o seu aperfeiçoamento intelectual e moral. Além disso, o Espiritismo mostra que a lei de Deus é de bondade e misericórdia, e os que erraram terão novas oportunidades de refazer caminhos por meio das reencarnações.

Julia Nezu, presidente da USE Regional de São Paulo

2 Como falar sobre morte com crianças?

Segundo Elizabeth Kübler-Ross (Sobre a morte e o morrer, 2008), se permitíssemos que as crianças participassem dos processos de doença e morte, elas veriam com mais naturalidade a partida dos entes queridos. Falar sobre a morte, sobre a finitude, deveria ser tão natural quanto falar do nascimento. “Muito ajudaria se as pessoas conversassem sobre a morte e o morrer, como parte intrínseca da vida, do mesmo modo como não temem falar quando alguém espera um bebê.” Por volta dos 7 anos, a criança percebe com mais clareza a possibilidade da morte dos pais, e o medo de perdê-los torna-se uma realidade, surgindo então os questionamentos sobre a morte e para onde vão as pessoas que morrem. A vida tem seus ciclos, nascer e morrer são apenas etapas. Assim como as plantas, que nascem, florescem e morrem, os seres humanos têm sua passagem pela Terra, e todos se reencontrarão na verdadeira morada, que é o mundo espiritual. Falar abertamente sobre a desencarnação, sem inventar desculpas, como “Deus levou”, “virou anjo”, e permitir que a criança expresse seus sentimentos é a melhor solução, pois, não raro, ela cultiva sentimentos ambíguos de saudade e culpa pela morte do ente querido. Trazer a certeza de que ninguém morre e que o amor mantém unidos os corações e permite reencontros por meio do sono, de mensagens e do pensamento. Olhar para a finitude da vida permite-nos olhar com mais clareza para os pequenos detalhes do percurso, para a importância das nossas relações e das nossas escolhas. Falar sobre a morte com as crianças nos conecta com o presente e com o significado do existir e as prepara para uma vida mais bem vivida.

Ana Paula Vecchio, reumatologista pediatra, AME-Goiás

3 Como conversar com pacientes e seus familiares que estão no final da vida?

Abordar assuntos relacionados ao contexto de fim de vida, como em situações em que o médico tem o dever de informar sobre a condição de saúde, o diagnóstico e muitas das vezes a expectativa de tempo de vida estimado de alguém, não é algo fácil, mas é possível e aconselhável. Pacientes e familiares têm o direito de serem bem-informados, independentemente da idade. A comunicação que se estabelece entre duas pessoas, por exemplo, ocorre 60% de maneira não verbal e 40% verbal. A postura, o local apropriado (calmo, onde todos estão sentados), a capacidade de ouvir, o olhar e os gestos são muito importantes. Conhecer a história de vida do paciente, suas crenças e seus valores, a forma como reage a situações de crise, a disponibilidade para conversar sobre determinados assuntos ou não, o acolhimento e o trabalho multiprofissionais podem melhorar o impacto de assuntos delicados e as más notícias. As pessoas (pacientes e familiares), em sua maioria, que se apresentam com uma condição de saúde grave, avançada e irreversível, ao final da vida, desejam que os médicos sejam honestos, compassivos e que não as abandonem, proporcionando-lhes cuidado impecável dos problemas físicos, emocionais, sociais e espirituais que surgem nessa fase última da vida física.

Luís Gustavo Langoni Mariotti, médico geriatra, membro da AME-Botucatu e coordenador do Departamento de Cuidados Paliativos da AME-Brasil

4 Ter apego a itens pessoais de desencarnados é bom?

Apego a algo, alguém ou alguma circunstância não nos faz bem. Falamos desse apego no sentido da dedicação mental e emocional constante e excessiva que muitas das vezes acaba por dar origem a um estado de fixação mental irremovível, gerando um circuito paralisante que impede o fluxo natural da vida, podendo provocar adoecimentos psíquicos importantes. É natural não nos desfazermos de pronto dos itens que pertenceram àqueles que nos são tão caros aos corações. Não é saudável, muitas das vezes, tanto para a família que fica quanto para o Espírito que parte, fazer esse movimento tão prontamente sem respeitar o tempo natural do luto. No entanto, se esse movimento primeiro não abre espaço para o entendimento, para a aceitação e para o desapego e cria-se a ilusão de que os itens pessoais representam o próprio familiar, isso pode não só gerar ainda mais dor e sofrimento para quem fica, mas também para quem partiu, o qual se angustia ao sentir e perceber a dor daqueles a quem ama. É como diz o provérbio: “Águas paradas, cautela com elas”.

Marcus Ribeiro, médico, residente de Psiquiatria e membro e colaborador da AME-SP

5 Como lidar com o luto?

O luto é uma resposta natural à perda, deve ser respeitado, vivenciado, pode continuar por um ou dois anos e, mesmo assim, não deve ser, a priori, confundido com depressão. O luto saudável envolve o ponto de equilíbrio entre o atravessar a tristeza sem cultivá-la ou mesmo incentivá-la, enquanto o luto patológico envolve o cultivo inconsciente do sofrimento, como se este fosse o último elo de conexão ao ente amado. Deixar de sofrer a perda, para muitas pessoas que vivem o luto patológico, dispara inconscientemente a culpa como se houvesse um suposto “abandono” da pessoa amada que partiu. A morte inesperada figura entre os principais eventos potencialmente traumáticos tanto para quem desencarna quanto para os entes queridos e familiares que vivenciam a perda da pessoa amada.

Júlio Peres, psicólogo clínico

6 Como consolar alguém pela morte da pessoa amada? O que falar?

Como podemos medir ou mensurar o que é o sentimento de alguém pela perda com a ausência física do outro ser amado? Seríamos muito pretensiosos e calculistas ao tentarmos fazer isso. Cada um de nós já passou, está passando ou vai passar pelo momento de uma despedida tão simbólica e cheia de ritualismos, por vezes muito desgastantes, afinal temos as perdas súbitas que nos fazem perder o chão ou as perdas previsíveis, em que o tempo, o inexorável da vida, não poupa ninguém. Mas para se tornar ou tentar ser um ombro amigo, com ouvidos de ouvir, com braços quentes e corações abertos não nos é solicitado ser um herói perfeito irretocável, que supera tudo rapidamente o tempo todo como se nada tivesse acontecido. Basta ser humano, chorar junto, propagar o amor vivenciado por quem partiu e por quem ficou, sem classificar ou julgar defeitos e qualidades de nenhuma parte envolvida. Ao meio espírita que estuda a imortalidade da alma e a impermanência das pessoas na logística da reencarnação, torna-se necessário dizer que precisamos vivenciar sem sacrifícios de rápida superação a passagem de um amor que se foi, mas que ficará armazenado na lembrança da saudade e da memória. Torna-se então proibido proibir uma lágrima sincera e exigir um sorriso forçado quando não são verdadeiros no seu tempo certo da colheita. Basta optarmos pelo mais simples, que é a escolha da solidariedade e de um refazimento colaborativo presente para uma nova etapa desse cenário que se transforma continuadamente, que costumamos chamar de vida.

Flávio Braun Fiorda, médico psiquiatra, membro da AME-Santos

7 É adequado pedir mensagem daquele que morreu?

Não é adequado pedirmos insistentemente notícias diretas de nossos familiares recentemente desencarnados. Lembramo-nos de que Chico Xavier frequentemente respondia a quem o indagava a respeito: “O telefone toca de lá para cá!” Sabemos o quanto dói a dor da separação dos entes queridos que sofrem a desencarnação no seio da família, mas devemos nos render à Vontade Soberana de Deus, Nosso Pai, que sabe o melhor caminho e as melhores ocorrências para o nosso próprio desenvolvimento espiritual nesta encarnação. Aceitemos a prova que surja neste particular em nossa existência terrestre, conformando-nos com paciência e resignação, e, na hora certa, se Deus assim o permitir, haveremos de ter notícias dos nossos entes amados no além-túmulo. Toda separação é transitória e passageira, e um dia, no futuro que aprouver à Misericórdia Divina decidir, haveremos de reencontrar nossos grandes afetos no Mais Além.

Geraldo Lemos Neto, Casa de Chico Xavier de Pedro Leopoldo e Portal TV Saber Espiritismo

8 Segundo o entendimento da Doutrina Espírita, o que pode ajudar as pessoas a terem uma boa morte?

Muito se fala em qualidade de vida, mas também devemos falar em qualidade de morte, entendendo esta como parte da vida. Uma morte digna é aquela na qual a pessoa é respeitada em sua autonomia e acolhida em toda sua integralidade física, mental, social e espiritual, até o último suspiro de seu corpo físico. Uma boa assistência de saúde, por meio dos cuidados paliativos, que enxergam o ser humano além da matéria, é essencial para se atingir esse ideal, pois pode proporcionar: controle adequado de sintomas (dentre os quais a dor e a falta de ar são os mais temidos), acolhimento familiar, resolução de questões sociais, acolhimento e suporte emocional e espiritual.

Rodolfo Moraes, médico paliativista e presidente da AME-Franca

A ideia do fim nos angustia como seres humanos, ao passo que a convicção sobre a transitoriedade da despedida consola e alimenta a alma. Para uma boa morte se faz necessário entender melhor a vida. Somos Espíritos em experiências carnais. Não estamos vivenciando, pela primeira vez, a experiência da partida de alguém querido ou mesmo a nossa. Já vivemos inúmeros desencarnes, muitos momentos de passagens de uma vida para outra, já vivenciamos muita saudade e já tivemos muitos reencontros. Precisamos conhecer e reconhecer nossa história como Espíritos imortais. Um caminho para uma “boa morte” é a apropriação desse conhecimento através de livros e estudos que apresente ao pensamento a ideia transcendente. Procurem ler, assim sua mente ficará mais ativa e mais desperta. Peça sugestões de livros que tragam o entendimento sobre desenlace na obra da codificação e outros complementares. “Alfabetize-se espiritualmente”, a leitura renovará seus propósitos e poderá mudar suas práticas. Para ajudá-lo neste caminho, eis aqui três preciosas indicações de leitura para esse início de “alfabetizar-se espiritualmente”: O livro dos Espíritos, de Allan Kardec; Reencarnação: processo educativo, de Adenauer Novaes; e Quem tem medo da morte?, de Richard Simonetti.

Ana Lucia Caetano, autora da cartilha Estamos a caminho – preparação para o reencontro, Editora Boa Nova

É cuidando adequadamente dos problemas físicos que a pessoa pode apresentar dor, falta de ar, náusea. É difícil você cuidar da ansiedade, da tristeza ou da angústia espiritual de alguém se os sintomas físicos não estão bem controlados. Segundo, é preciso protagonizar aquele que se encontra ao final da vida, ou seja, o mais importante não é o que eu acho melhor, onde eu acho mais adequado aquela pessoa passar seus últimos dias de vida ou com quem ela deve permanecer acompanhada, mas, sim, o que ela deseja ou espera que seja possível. O profissional de saúde tem que ser apenas o facilitador, o articulador, para garantir que o cuidado seja longitudinal, permanente e que a pessoa e seus familiares tenham o suporte adequado em todos os momentos e locais em que ela se encontre. Terceiro: garantir o acesso para recebimento de cuidados paliativos (uma forma de assistência ou abordagem que visa melhorar a qualidade vida de pessoas – pacientes e familiares – desde o diagnóstico de uma doença crônica e progressiva, na maioria das vezes incurável, até o contexto de final de vida). Isso é indispensável, trata-se de um direito e já temos legislação no Brasil para isso.

Luís Gustavo Langoni Mariotti, médico geriatra, membro da AME-Botucatu e coordenador do Departamento de Cuidados Paliativos da AME-Brasil

9 Bate-papo no velório, pode?

Do ponto de vista espiritual, a tradição de nossa sociedade de respeitar um período de vigília entre o óbito propriamente considerado e o enterro é totalmente justificada. É interessante que se comece a pensar no velório como uma sala de tratamento intensivo, onde delicadas operações se estão processando, e auxiliar o Espírito desencarnado com respeitoso silêncio. Ambiente calmo, que convide à oração sincera em favor do desencarnante e de sua família. Sala simples onde só as flores da sinceridade se encontrem. Conversas em voz baixa, de assuntos edificantes. Esforçar-se para não lembrar episódios infelizes envolvendo o desencarnante, compreendendo que todo pensamento tem elevada repercussão espiritual. Evitar recordações das suas más ações, que o prejudicam agora, infelicitando-o. Basta-lhe a própria consciência a lhe dizer dos erros cometidos. Imagens, conversas, palestras incidem sobre a mente do desencarnado, pois o Espírito é imortal, e as preces e as vibrações ambientes podem gerar, quando realmente elevadas, barreiras magnéticas que impeçam a presença de Espíritos sofredores e/ou vampirizadores que possam vir a prejudicar o desenlace de nosso irmão.

Hélio Blume, diretor da FEB

10 Tudo bem em acender velas ao lado de fotos de quem já partiu?

O hábito de acender velas ao lado de fotos, lembranças ou mesmo em altares é algo muito presente na cultura brasileira e, em especial, em alguma correntes religiosas. A Doutrina Espírita não condena esse hábito, mas também não o incentiva, nos esclarecendo que a intenção e o pensamento são os verdadeiros recursos, uma fonte infinita, que podemos utilizar para enviar aos nossos entes queridos desencarnados. Acender ou não uma vela é uma escolha individual, no entanto não podemos perder de vista que não será a vela, com sua chama externa, a responsável pela iluminação dos Espíritos que já partiram, mas a chama interna do nosso coração aquecida de amor, carinho e boas energias.

Marcus Ribeiro, médico, residente de Psiquiatria e membro e colaborador da AME-SP

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