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A oração de Seu Francisco e a história de uma alta hospitalar

– Olá, bom dia! Sou estudante do segundo ano de Medicina e preciso colher a história do paciente internado no leito 1A. A senhora poderia ajudar-me a encontrá-lo?

Com a delicadeza de um rinoceronte, a responsável pela enfermaria apontou para a primeira porta do discreto e pálido corredor a nossa frente.

– Leito 1A? Precisa colher a história dele? – Bramiu a enfermeira.

– Sim, senhora! – Respondi sorrindo.

– Aquele senhor não conversa com ninguém há vários dias, não toma a medicação prescrita e parece que já se entregou ao destino… Se continuar assim, não sobreviverá muitos dias. – Retorquiu a rinocerôntica senhora.

A vontade de cumprir a homérica missão de registrar o caso clínico era tão grande que a mensagem de alerta não foi totalmente processada nos escaninhos borbulhantes de minha massa cinzenta. Atravessei a porta do quarto 1. Os dois leitos estavam ocupados.

– Bom dia. Sou acadêmico do segundo ano de Medicina e gostaria de conversar um pouco com o senhor. – Dirigi-me àquele corpo totalmente coberto pelo lençol, que se estirava no famigerado leito 1A.

Silêncio.

Aproximei-me um pouco mais do amontoado de pano.

– Bom dia. Sou acad…

Abruptamente, o homem se moveu! Virou-se de costas para mim, sem sair debaixo da mortalha que o recobria, mantendo o absoluto silêncio. Simplesmente, ignorou-me.

A generosa alma que ocupava o catre ao lado tentou consolar-me:

– Pode conversar comigo. Esse companheiro, provavelmente, não vai conversar. Há dias que não fala com ninguém. O que você precisa saber? Conto toda minha história se quiser.

– Agradeço muito a gentileza, mas minha colega já vem conversar com o senhor. Além disso, estou responsável pelo leito 1-A, preciso mesmo falar com ele. – desacorçoadamente respondi.

Havia uma cadeira ao lado da primeira cama. Sentei-me. Sob o gaveteiro havia uma Bíblia e algumas mudas de roupa.

– O senhor reza? – Ensaiei timidamente, olhando para o livro negro em minha frente. – Estou vendo uma Bíblia ao seu lado. O senhor costuma rezar? – Atrevidamente, continuei.

Para minha surpresa, houve um súbito movimento. Aquele homem virou-se para meu lado, olhou fixamente em meus olhos com um semblante abatido e cansado, com tonalidades sutis de rancor. Rosto macilento e pálido. Os quilômetros da jornada da vida, visivelmente, maltrataram aquela pele parda e rugosa.

– Não. – Retrucou o moribundo. – Não rezo. Sou evangélico. Eu oro.

“Qual a diferença entre rezar e orar?” – pensei. Mas não havia tempo a perder com semântica. Precisava dos dados clínicos.

– Posso pegar sua Bíblia?

Silêncio. (Olhos fixos aos meus.)

– Seria algum inconveniente abri-la ao acaso para ler a mensagem sorteada?

Silêncio. (Olhos de desconfiança e estranheza, mas, ainda, fixos aos meus.)

Descerrei o opúsculo santo que estava em minhas mãos, implorando para que a mensagem escolhida não atirasse ao fogo eterno do inferno aquele empalamado homem.

Mateus (9:1). Jesus cura um paralítico.

Li emocionado. Quanta lição poderia ser retirada daquele capítulo? Quais valores poderiam ser trabalhados naquele momento? Quanto consolo a lição poderia trazer para aquela morrinhenta alma?

Grossas lágrimas correram daqueles olhos adoecidos.

– Meu nome é Francisco. Completei 53 sofridos anos de vida há algumas semanas. Tenho duas filhas que não vejo desde que me divorciei. Era homem trabalhador, tinha uma vida confortável e feliz. Até que, em uma infeliz relação extraconjugal, contraí o vírus da AIDS. Há cinco anos sofro com a doença e com todas suas nefastas consequências. Esposa e filhas afastaram-se. Amigos também. Perdi o emprego e a vontade de permanecer vivo. A cada dia, entrego-me mais ao desgosto. Estou internado há dias e ninguém conhecido veio ter notícias. Desisti do tratamento. Isolei-me de tudo e de todos. Acreditei, por todo esse tempo, que ninguém poderia me perdoar. Parei de orar. Hoje, essa mensagem me fez lembrar que Jesus me perdoa. Se nenhum amigo ou parente tem força para me perdoar, Ele tem. “O Filho do homem tem autoridade para perdoar pecados”, disse a palavra do Senhor.

A conversa continuou por longos minutos.

Enfim, consegui colher todos os dados do portifólio (que já não eram mais tão importantes para minha alma). Com um gratificante sentimento de missão cumprida, ousei sugerir:

– Seu Francisco, por que o senhor não lê a Bíblia todos os dias? Como se fosse seu remédio?

– Sou analfabeto, meu filho. – Respondeu um tanto quanto constrangido.

– Entendo… Posso passar aqui na próxima semana para lermos juntos alguma outra mensagem?

– Ficaria muito feliz!

Despedimo-nos.

A semana passou, e retornei ao leito 1A como prometido. Fiquei paralisado por alguns instantes ao ver a cama vazia, sem lençóis e com o colchão dobrado ao meio.

“Faleceu” – pensei imediatamente, enquanto meu estômago e espinha dorsal esfriavam-se abruptamente.

Corri até a enfermaria e perguntei ao rinoceronte de branco:

– Onde está o Seu Francisco do leito 1A?

– Recebeu alta hoje bem cedo. Sem nenhuma explicação, há uma semana, voltou a tomar o antifúngico, os antibióticos e antirretrovirais. Melhorou da monilíase esofagiana que o atacava. Voltou a comer e conversar conosco. Recebeu alta para continuar o tratamento ambulatorial. Pareceu até milagre…

Felipe Sá é médico ginecologista e obstetra.

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