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Novo filme da Pixar celebra amizade e aceitação do diferente

Quase ao término do filme Luca, novo longa-metragem de animação dos estúdios Pixar, recentemente lançado em streaming nos canais Disney (junho, 2021) e ambientado na Itália, uma grande competição esportiva termina e, então, é anunciado: “Os vencedores deste ano são… os excluídos!” E os campeões, as crianças Luca, Alberto e Giulia, festejam juntos. Percebem que de excluídos haviam sido alçados a vitoriosos. Assistem à mudança do julgamento de todos ao redor e descobrem, exultantes, o início da autoaprovação.

A história, porém, começa em um ambiente totalmente diferente daquele pequeno povoado da Riviera italiana. Luca, o personagem principal, é um menino-monstro que vive nas profundezas do mundo marinho. Ele vivencia, ao mesmo tempo, medo e curiosidade sobre o mundo dos humanos. Seus pais o advertem, constantemente, para que nunca se aproxime de ninguém.

O menino, curioso, se aventura a seguir o novo e destemido amigo Alberto e passa a viver com ele entre os seres humanos, onde ambos adquirem a aparência de pessoas comuns. Assim, o medo dá lugar a novas emoções. Fazem amizade com a menina Giulia, uma humana que também se sente não aceita por outras crianças. O companheirismo profundo e sincero entre os monstrinhos Alberto e Luca e depois com a menina Giulia é explorado de maneira leve e positiva no filme.

No momento em que os pais de Luca se dão conta da falta do filho e partem em sua busca, a maior preocupação de ambos é que o menino jamais seja aceito pelos humanos e que isso possa lhe causar sofrimento.

O diretor italiano Enrico Casarosa deixou claro, nas entrevistas que concedeu, que o longa-metragem tem muito de autobiográfico, como já é praxe nos roteiros da Pixar, em que diretores e roteiristas são convidados a expor experiências pessoais que possam criar identificação com o espectador. Por isso mesmo, também emocionam outras escolhas autenticamente italianas do diretor: a beleza dos cenários, os figurinos, a arquitetura e até mesmo a gastronomia, com suas massas ao pesto e sorvetes.

Amizade e aceitação

A graça e o colorido do longa-metragem são tantos que fazem lembrar de um conto de fadas, porém com a diferença de que, aqui, não se celebra o amor entre princesas e príncipes, mas, sim, a amizade e a aceitação das diversidades de cada ser. Não há personagens esteticamente perfeitos e atraentes, como nos antigos contos, e sim pessoas narigudas, gordinhas, com um braço faltando e, claro, há ainda os personagens-monstro. Os três amigos ajudam-se o tempo todo, chegam mesmo a se desentender, mas jamais abandonam seus ideais comuns. Enfrentam o desafio da competição e, apesar do medo, vencem e, sobretudo, descobrem-se pertencentes, respeitados e aceitos pela comunidade.

Leia +: Filme “Viva a Vida” reflete sobre a vida após a morte

Reflexão sobre tolerância

A busca de Luca e Alberto por aceitação entre os humanos, sempre escondendo sua aparência de meninos-monstro, é uma metáfora para descrever qualquer situação em que o espectador tenha se sentido excluído por sua própria condição. Dessa forma, o filme serve de reflexão para adultos, e não apenas para o público infantil: somente com tolerância e amor haverá paz entre todos.

O cinema atual tem nos brindado, cada vez com maior frequência, com roteiros que mostram essa mudança de paradigma. Por muito tempo, uma boa história de sucesso deveria mostrar a dualidade entre personagens inocentes sendo traídos, para depois mostrá-los adquirindo força e coragem suficientes para promover a sua vingança, o que sempre acabava por incentivar no espectador a noção de que era necessária uma certa dose de agressividade para se tornar um verdadeiro vencedor. Era preciso que os bons se tornassem intolerantes com aqueles que, no seu julgamento, estivessem sendo maus. Como se entendimento mútuo, respeito e perdão fossem atitudes escolhidas apenas pelos fracos e menos experientes. Eram constantes os roteiros enaltecendo essa força ilusória e temporal, calcada na vaidade e no poder transitório da vida. E, como sabemos, isso seria contra todas as crenças cristãs.

Sabemos pela obra de André Luiz que muitos escritores e cineastas, depois de desencarnados, tomados pelo remorso de terem produzido cenas aterrorizantes e plasmado na mente de leitores e espectadores sentimentos extremamente negativos, muitas vezes em associação direta com os obsessores que mantinham junto de si mesmo, ainda em vida, vivem a se sentir perseguidos pela assombração e pela culpa que criaram para si, percebendo tardiamente haverem desperdiçado as possibilidades construtivas do talento que traziam e que poderia ter sido usado para o bem.

Um desses exemplos aparece no livro Libertação (Luiz, 1949), em que um escritor desencarnado pede auxílio a André Luiz, pois, após toda uma vida levada na volúpia e no desregramento, e de ter usado disso como inspiração para a sua obra escrita, via-se agora perseguido por leitores desequilibrados e até pelas imagens vivas de seus personagens – ideoplastias ou formas-pensamento –, conforme Nobre (1997), todos eles atormentando-o sem parar.

Por todas essas razões, torcemos por mais roteiros como Luca, reflexivos e verdadeiros, para que possamos semear a tolerância, a fraternidade e o amor, mostrando a simplicidade de coração como virtude e aproximando cada vez mais a arte e a produção cultural do nosso globo aos valores eternos do Cristo, em especial para as novas gerações!

Fontes

LUIZ, A. (Espírito). Libertação. Psicografado por Francisco Cândido Xavier.3. ed. Brasília, DF: FEB, 1949.

NOBRE, Marlene. A obsessão e suas máscaras. 2. ed. São Paulo: FE Editora, 1997.

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