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irEntão Ele conviveu três anos com seus apóstolos e depois virou saudade.
Diante das lutas humanas desses dias lúgubres, a humanidade experimenta uma saudade crônica do Filho do Homem.
Ah! Quanta saudade o ser humano experimenta daquilo que não viveu, mas que ouve falar e que lê cada vez que abre o Evangelho.
O amor ensinado por Jesus é um amor com o qual sonhamos há mais de dois mil anos.
Pode alguém sentir saudade de algo que não viveu?
Sentimos saudade e sofremos pelo que ainda não desenvolvemos em nós como sentimento de amor genuíno, que se entrega, que se doa.
Ninguém conseguiu caracterizar com tanta assertividade o que é saudade como Chico Buarque, ao escrever a letra da música Pedaço de mim:
Oh, pedaço de mim
Oh, metade afastada de mim
Leva o teu olhar
Que a saudade é o pior tormento
É pior do que o esquecimento
É pior do que se entrevar
Então ele dividiu o pão e o vinho entre seus seguidores e, a partir daquele momento, pedaços dEle compõem nossa alma.
Andamos apartados do Cristo, como membros de um corpo esquartejado.
Não sem razão, naquela noite no Monte das Oliveiras, o colégio apostólico se esfacelou, perdeu a cabeça, e a integridade da mensagem se fragmentou por um tempo.
Jesus era o pedaço de todas as inteiras aspirações daqueles homens simples e limitados e foi afastado do seu grupo pelos religiosos da época.
E até sua aparição para Maria de Magdala, tornou-se o pior tormento, muito pior que o esquecimento, pois entrevou o coração e a mente dos seus seguidores.
Oh, pedaço de mim
Oh, metade exilada de mim
Leva os teus sinais
Que a saudade dói como um barco
Que aos poucos descreve um arco
E evita atracar no cais
Foi exilado para ser imolado como cordeiro, pois nEle eram patentes os sinais anunciados por João Batista e pelos profetas que o precederam.
E pregando no barco, o sermão do Monte é como a flecha, e o Evangelho é o arco disparado para o coração do homem e percorrerá a história humana até a consumação dos tempos.
Sim, estamos com saudade de Jesus, não dos seus “milagres”, mas da sua humanidade quando acolhia os estropiados do corpo e da alma.
É claro que Ele sabia que teríamos saudade, por isso prometeu enviar o Consolador, e o fez.
E o Espiritismo juntou os pedaços do Cristo, dispersos pelas “religiões humanas”, pelos “deuses” que esquartejam o amor e desejam manter o corpo do Evangelho desbaratado.
Oh, pedaço de mim
Oh, metade arrancada de mim
Leva o vulto teu
Que a saudade é o revés de um parto
A saudade é arrumar o quarto
Do filho que já morreu
O Consolador prometido nos devolveu Jesus, mas o materialismo insiste em arrancar essa metade de nós e novamente nos mergulhar em saudade abismal.
A morte pela ignorância é o revés da vida, é o suicídio, a obsessão e a escuridão.
A saudade, diz o poeta, é arrumar o quarto do filho que já morreu.
Maria não arrumou o quarto do filho “morto”, porque Ele dormia sob as estrelas, sua casa é o Universo.
Ainda assim, ela chorou, sentiu saudade do filho inocente que prometeu o reino dos céus para quem ouvir sua palavra.
Oh, pedaço de mim
Oh, metade amputada de mim
Leva o que há de ti
Que a saudade dói latejada
É assim como uma fisgada
No membro que já perdi
Ora, assim como o corpo é uma unidade, embora tenha muitos membros, e todos os membros, mesmo sendo muitos, formam um só corpo, assim também com respeito a Cristo (1 Coríntios 12:12).
A Doutrina Espírita veio nos lembrar que somos membros do corpo do Cristo e nos ensinar, através da lei de ação e reação, que fomos nós, pelas escolhas realizadas ao longo de variadas existências, que arrancamos, amputamos, afastamos e exilamos o Evangelho da nossa vida.
Oh, pedaço de mim
Oh, metade adorada de mim
Lava os olhos meus
Que a saudade é o pior castigo
E eu não quero levar comigo
A mortalha do amor
Adeus
E nesses dias de transição, estamos nos conscientizando de que é necessário adorar o Cristo, porque a saudade do que não vivemos, mas apenas sonhamos, da promessa de salvação fustiga nosso coração.
Muitos dos nossos sofrimentos se estabelecem por rompimentos que causam chagas pelo que poderia ter sido e não foi vivido.
Daí nasce a saudade abrasadora que sentimos de Jesus, pois Ele nos falou do reino dos céus, nos mostrou o caminho, a verdade e a vida, e ainda hoje sonhamos.
Que o materialismo não afaste essa metade amada de nós, que se tornará o amor inteiro um dia.
Seguimos com saudade de Jesus, como a mãe que arruma o quarto do filho que já morreu.