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irGiovana Campos
O sentimento de culpa é o sofrimento obtido após a reavaliação de um comportamento passado tido como reprovável pela própria pessoa. A origem desse sentimento pode ser a frustração causada pela idealização que fazemos e o que realmente aconteceu, podendo ou não estarmos diretamente ligados ao fato. No entanto, a contínua alimentação dessas emoções negativas pode causar o aparecimento de doenças. Sobre o assunto, o dr. José Henrique Rubim de Carvalho, médico e presidente da Associação Médico-Espírita de Nova Friburgo (RJ), apresenta a relação entre a culpa e suas implicações espirituais para a saúde integral.
FE – O sentimento de culpa não trabalhado psicologicamente pode propiciar o aparecimento de enfermidades?
José Henrique Rubim de Carvalho – Entende-se que a fixação da culpa está atrelada à rigidez comportamental. A criatura rígida, inflexível e intransigente, devido ao padrão de poder que estrutura seu psiquismo, apresenta muita dificuldade em lidar com os erros e fracassos. Mergulha nas frustrações, baixa autoestima, desaguando nos quadros depressivos. O rígido, obstinado em suas dominações e controles, termina no translado desses comportamentos para a indumentária física, acarretando as doenças da rigidez. A culpa sendo um complexo de fixação, como nos fala o Espírito André Luiz, funciona como num circuito fechado, ou seja, o culpado encontra-se ensimesmado e gira ao derredor da culpa fixada, por não se perdoar ante os fracassos inadmissíveis e por não acreditar em si próprio, acreditando-se impotente e incapaz. Acreditamos que, nesse circuito fechado, as energias aí mantidas e reforçadas podem ser geradoras de tumores pelo adensamento energético.
FE – Quais os tipos de doenças que podem aparecer no corpo físico ou mental derivados do sentimento de culpa?
Carvalho – Como a culpa está ligada à rigidez comportamental e ao padrão de poder que encontraremos nos controladores, essa característica da personalidade rígida desemboca na organização física, gerando as doenças da rigidez. Não podemos esquecer-nos dos perfeccionistas, que tendem a dar uma importância superlativa a tudo, se exigem, são detalhistas em geral e nunca estão satisfeitos com os resultados obtidos. As doenças mais comuns da rigidez estão ligadas às alterações osteomusculares. Observamos nitidamente a rigidez, a inflexibilidade e o egocentrismo das criaturas que apresentam o olhar para si mesmos, supervalorizando o Eu, e que ante os fracassos inaceitáveis desmoronam-se na culpa por faltar a humildade do arrependimento sincero. A fibromialgia ou síndrome de amplificação dolorosa é uma doença musculoesquelética difusa, que se caracteriza por dores no corpo, fadiga e alterações no sono. São criaturas perfeccionistas e de rigidez comportamental. Da mesma forma, se exigem muito e resvalam na culpa quando se sentem incapazes, impotentes e frustradas. Como a rigidez e a culpa se correlacionam e seguem um regime de feedback ou retroalimentação negativa, poderemos compreender que o câncer também pode ter ligação com a culpa e os caracteres de inflexibilidade e intransigência psicológica individual e coletiva, sob a forma de intolerância.
FE – Toda culpa é proveniente de obsessão?
Carvalho – A culpa é um processo de auto-obsessão, sendo considerada uma fixação mental. A culpa quando assumida leva a criatura ao arrependimento e à responsabilidade de seus futuros equívocos, havendo sempre a representação do autoperdão. Nem sempre a culpa é acompanhada de quadros obsessivos, principalmente os que assumem a culpa e se perdoam. Em muitas situações, os Espíritos se fundem formando uma soldadura perispirítica, atendendo à sintonia e afinidade que os une, pelos padrões comportamentais rígidos e que deságuam no complexo de culpa. Os que se situam em padrões de poder, os dominadores, rígidos e controladores, que não admitem os erros e fracassos e que acabam mergulhando nas culpas, são os alvos preferidos dos obsessores, que nem sempre são os credores do passado, outrossim, estão afinizados e se identificam com os obsidiados. Um bom exemplo vamos encontrar no livro Ação e reação, ditado pelo Espírito André Luiz, psicografia de Chico Xavier, com informações preciosas do Espírito Leonel: “[…] – Sim, aprendemos nas escolas de vingadores que todos possuímos, além dos desejos imediatistas comuns, em qualquer fase da vida, um ‘desejo-central’ ou ‘tema básico’ dos interesses mais íntimos. Por isso, além dos pensamentos vulgares que nos aprisionam à experiência rotineira, emitimos com mais frequência os pensamentos que nascem do ‘desejo-central’ que nos caracteriza, pensamentos esses que passam a constituir o reflexo dominante de nossa personalidade”.
FE – Como o perdão ou o autoperdão auxiliam no restabelecimento desses quadros?
Carvalho – A culpa e a mágoa como fixações mentais se expressam pela ausência do autoperdão e do perdão. Normalmente, a autopunição ou autoflagelo e a vingança acompanham essas fixações e geram estados ansiosos e depressivos, assim como desarranjos nos arquipélagos celulares causadores de doenças orgânicas. Portanto, torna-se emergencial o trabalho constante e diuturno do perdão e do autoperdão, para o restabelecimento homeostático do corpo e da alma. Perdoar em verdade depende da avaliação consciente da intenção e das emoções de quem nos ofendeu, ou seja, nos colocar no lugar do outro e tentar compreender o que o levou a cometer determinada atitude, como também o que me levou a praticar o equívoco no trabalho de autoperdão.
FE – Qual a melhor terapêutica para as pessoas que se culpabilizam facilmente, seja por pequenos erros próprios ou alheios?Carvalho – Como dito, o trabalho do perdão e do autoperdão. Para isso é necessária a compreensão de si mesmo pelo autoconhecimento, para então tentarmos compreender o próximo, que não é a extensão de nós mesmos, decorrente do mecanismo de projeção psicológica. Quando começamos a nos conhecer, qual o sentimento presente em nosso psiquismo, partimos para a ressignificação, que é a tentativa de compreender nossas atitudes, assim como das demais criaturas. A ressignificação é a abertura das janelas do perdão e do autoperdão que diluem as mágoas e as culpas. A meditação dirigida para a monoideia da culpa ou da mágoa coloca a criatura diante de sua realidade irrecusável e, desde que aceita, proporcionará a inclusão dos opostos, que são o perdão e o autoperdão. Haverá então a integração como primeiro passo para a transformação do neurótico. É um exercício constante que deve ser praticado utilizando o poder neuroplástico do cérebro. A prática vai conferindo à criatura uma abertura psíquica, acurando a atenção e a percepção dos sentimentos, antes reprimidos e negados, que arremessavam os incautos aos fossos dolorosos das patologias.