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Lembranças preciosas

Nestor João Masotti, Marlene Nobre, Irvênia Prada e Elsa Rossi
Nestor João Masotti, Marlene Nobre, Irvênia Prada e Elsa Rossi . Foto: Arquivo Pessoal

Era setembro de 2008 quando recebi um telefonema da dra. Marlene Nobre, nossa eterna líder no contexto do paradigma médico-espírita, convidando-me para acompanhá-la em viagem a Brasília, pois havia conseguido a participação da AME-Brasil na Audiência Pública que, nos dias seguintes, seria realizada no STF com vistas à proposta de legalização do aborto do anencéfalo. E assim, eis que, oportunamente, lá nos encontramos compondo, com alguns dedicados católicos e evangélicos, pequeno grupo em defesa da vida dessa criaturinha. De outra parte, eram muitos os que se posicionavam pelo abortamento, ouvindo deles, o tempo todo, expressões constrangedoras em alusão ao feto que caracterizavam como peso morto, entrave, afronta à dignidade da mulher! Assim, ao pronunciarmos palavra “aborto”, insurgiam-se prontamente, alegando que a proposta deles não era essa, mas, sim, a de “antecipação do parto”, como se o eufemismo pudesse aliviar a gravidade dessa questão moral.

A sessão foi presidida pelo ministro Marco Aurélio de Melo, e nos 15 minutos de que dispúnhamos para nossa apresentação, dra. Marlene e eu havíamos combinado de dar destaque aos argumentos com embasamento científico, que acreditávamos serem os mais aceitáveis pelo público-alvo, os senhores ministros. Foi o que fizemos.

Dra. Marlene, com sua autoridade profissional e moral, além de sua presença que naturalmente se impunha, mostrou aos senhores ministros importantes pesquisas científicas que esclareciam, favoravelmente, a manutenção da vida do “anencéfalo”. Dez das mais frequentes questões que são levantadas na discussão desse assunto constam em seus livros O clamor da vida; Reflexões contra o aborto intencional; e A vida contra o aborto. São elas: Seria o embrião um mero “amontoado de células”? Podem os genes determinar completamente o desenvolvimento humano? É o feto inteiramente dependente do organismo materno? O feto possui psique própria? O feto teria memória antes da formação do cérebro? O acaso explicaria a origem da vida? Seria casual o arranjo das partes de uma célula? Quantas enzimas o acaso colocaria dentro de uma célula? Por que ordem a partir da desordem? Por que a vida obedece a convenções?

Esclarecimentos necessários

De minha parte, expliquei a eles, inicialmente, que a designação de “anencéfalo” para esse feto era totalmente inadequada pelo seguinte motivo: o termo “encéfalo”, pela Nomina Anatomica Internacional, diz respeito ao conjunto da massa neural (tronco encefálico, cérebro e cerebelo) contida dentro da cavidade craniana. Ainda, sendo o prefixo “a” ou “an”, de negação, por sua origem etimológica, a palavra “anencéfalo” significa, claramente, total ausência dessa massa neural, resultando vazia a cavidade craniana o que, em absoluto, não é o caso desse feto. Ele é, sim, portador de uma malformação encefálica, uma vez que lhe faltam porções do córtex cerebral – variáveis para cada caso –, mantendo-se íntegro, entretanto, todo o conjunto das estruturas subcorticais.

E qual a importância desse conhecimento? Na realidade, são dois os desdobramentos: 1 – segundo literatura acadêmica que consultamos, todo feto que se desenvolve no claustro materno com forma humana, batimentos cardíacos e outras funções viscerais, tem pelo menos esse bloco das estruturas subcorticais do encéfalo, referida pelo neurocientista Wilder Penfield (O mistério da mente. Um estudo crítico da consciência e do cérebro humano, 1975) como “tronco cerebral alto”; 2 – esse mesmo cientista comenta, nos capítulos 5 e 12 dessa obra, que a consciência se liga ao encéfalo pelo tronco cerebral alto, e não pelo córtex cerebral.

Penfield (1891-1976) trabalhou clinicamente com inúmeros soldados feridos, da Segunda Guerra Mundial, que tiveram lesões cranioencefálicas e percebeu que, mesmo com grandes perdas de áreas corticais, mas mostrando-se íntegro, anatômica e funcionalmente, o tronco cerebral alto, o paciente mantinha seus níveis de consciência. Ao contrário, embora estando o córtex cerebral íntegro, mas havendo lesão irreversível do tronco, o indivíduo não exibia mais nenhum nível de consciência. Portanto, o argumento de que “a mãe que carrega um feto anencéfalo, na realidade, carrega um cadáver” – como repetiam os apologistas do aborto –, não encontra a menor sustentação nas publicações científicas sobre o assunto.

Evolução espiritual

Interessante que essa conclusão a que Penfield chegou, após análise criteriosa de casos clínicos, tem tudo a ver com conceitos concordantes sobre a questão, pioneiramente emitidos por André Luiz (Espírito), em seus livros Missionários da luz, Evolução em dois mundos, No mundo maior e Obreiros da vida eterna. Nessas obras, o autor espiritual esclarece que as ligações do nosso Espírito com o cérebro se fazem particularmente em relação à glândula pineal, à região talâmica e à fossa romboide, que são estruturas integrantes do tronco cerebral alto (Penfield), denominado de “cérebro inicial” pelo mentor Calderaro no livro No mundo maior, de André Luiz. Em outras palavras, no entendimento da Doutrina Espírita, ao feto “anencéfalo” encontra-se ligado um Espírito com determinada programação encarnatória coerente com os objetivos propostos para sua evolução espiritual. Portanto, o contexto espiritual dessa encarnação, o que não nos foi possível comentar junto aos senhores ministros do STF, é muito mais amplo do que uma visão materialista e míope, como a dos abortistas, pode alcançar.

Irvênia, Cacilda e Marlene Nobre

Uma presença marcante naquele evento foi a da sra. Cacilda, de Patrocínio Paulista/SP, mãe da Marcela, menina “anencéfala” que havia falecido pouco tempo antes, com mais de dois anos, por pneumonia resultante da aspiração de leite da mamadeira para dentro de seus pulmões. As entrevistas que concedeu foram admiráveis, testemunhando que sua filha era um ser humano sensível, que recebia carinhos com alegria e inclusive gostava de passear, pois demonstrava descontentamento ao perceber que estavam voltando para casa. Católica convicta, aceitou resignada o diagnóstico que o médico lhe apresentou aos quatro meses de gestação, refletindo: “se é essa a filha que Deus me deu, é essa a filha que eu vou criar!”

Terminada a sessão, fomos visitar Marcelo Nobre – filho da dra. Marlene –, então integrante da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado Federal, instalado em sala no mesmo prédio do STF. Lembro-me de haver registrado, com profunda emoção, enorme tela com a figura amorosa de Jesus, na parede correspondente à sua mesa de trabalho. Foi um encontro muito agradável. Em seguida, dirigimo-nos à Federação Espírita Brasileira (FEB), onde nos encontramos com prezados amigos – o então presidente da entidade – Nestor João Masotti – e Elsa Rossi, que hoje integra o Conselho Espírita Internacional (CEI), com sede em Londres.

Fazendo a nossa parte

Marlene concedeu lá algumas entrevistas, sendo que uma delas ficou bem marcada em nossa memória. À sua frente a jornalista, a câmera de filmagem, as luzes… e de repente vem da entrevistadora a provocante pergunta: “Dra. Marlene, a senhora defende tanto a vida dos deficientes, mas, afinal, que contribuição eles podem oferecer à sociedade?” Nestor, Elsa e eu nos entreolhamos, surpresos e apreensivos e, após alguns intermináveis segundos de silêncio, dra. Marlene respondeu, com firme olhar e cabeça erguida: “Minha filha, você já observou que não são os deficientes que fazem as guerras?” Com o coração acelerado e sorriso de alívio, busquei novamente a sintonia de meus amigos, compartilhando com eles o elevado sentimento de gratidão a essa amiga querida que muito nos ensinou.

Fomos ao STF e fizemos a nossa parte, como também os prezados companheiros católicos e evangélicos, de mesmo ideal em defesa da vida, mas os senhores ministros não se mostraram bons alunos, pois, apesar das informações relevantes e dos argumentos consistentes que lhes apresentamos, votaram favoravelmente ao abortamento do “anencéfalo”, legalizando, assim, esse ato agressivo de completo desrespeito à vida do pequeno ser que tem direto natural à própria vida.

Em defesa da vida!

Dra. Marlene não se deu por vencida! Valendo-se da experiência acumulada a partir de incontáveis manifestações em defesa da vida, conclamou vários integrantes da AME-Brasil – entre os quais me vi honrosamente colocada – para escreverem capítulos sobre essa temática, assim elaborando e coordenando a edição do livro A vida do anencéfalo. Aspectos científicos, religiosos e jurídicos, lançado durante o Mednesp 2009 e cuja finalidade foi dar voz ao feto. Conforme se lê na contracapa do livro, juntamente aos argumentos científicos, os de natureza jurídica e espiritual nos conduzem à conclusão insofismável: abortamento intencional é crime!

Como nem tudo que é legal é moralmente aceitável, apenas nos restou lamentar que pessoas investidas do poder de decisões importantíssimas, como os senhores ministros, escolheram trilhar equivocados caminhos de agressão à vida… nem era da sua própria vida, mas, sim, da vida de outros… com o agravante de que, no caso, se trata da vida de pequeninos seres indefesos ainda recolhidos no útero materno.

Ecoa em nossa mente a divisa dessa luta em favor da vida, que ela frequentemente repetia: “A vida é um bem outorgado!”

Obrigada por tudo, querida mestra dra. Marlene Nobre! Receba nosso abraço, com profundo carinho e enorme gratidão!

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