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irHoje eu me lembro com pesar! Quando criança e adolescente, lá pelos idos de 1950 e mais alguns anos pela frente, uma das diversões costumeiras era ir aos circos, quando chegavam às suas cidades, e uma das atrações era representada por aqueles animais que não faziam parte do nosso dia a dia.
Assim, entre as apresentações, elefantes enormes se equilibravam em minúsculos banquinhos, grandes felinos, como tigres e leões, saltavam através de aros em chamas, e chimpanzés, com roupas e adereços humanos, andavam de bicicleta e faziam toda sorte de piruetas. Ainda na ingenuidade de imaturos aprendizes na escola da vida, tudo parecia tão divertido, mas, com a maturidade e o senso crítico que se conquista passo a passo, vai-se percebendo que ir aos circos ainda pode ser prazeroso, para admirarmos as incríveis acrobacias dos ginastas, mas sem a participação de animais![1]
De fato, já não teria a menor graça ir lá para assistir ao sofrimento desses nossos irmãos, filhos do mesmo Pai que nos criou, o que também podemos dizer relativamente a qualquer outro espetáculo de diversão que maltrate animais, como provas de rodeio, vaquejada, corridas de cavalos e de cães, além da caça esportiva e apresentações com animais marinhos.
[1] Trabalho extraordinário tem sido realizado aqui no Brasil pelo Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal, sob a presidência da bióloga Sônia Fonseca, em vários setores da atividade humana de que participam animais. Quanto aos circos, o Fórum já conseguiu proibição judicial da presença de animais em 12 estados (AL, ES, GO, MS, MG, PB, PR, PE, RJ, RS, SC e SP), além de vários municípios, o que, felizmente, vem conscientizando os próprios circos a abandonarem a antiga prática.
Existem dois canais para trabalharmos nesse contexto: o sensível e o inteligível, segundo comenta o grande filósofo espírita Herculano Pires no capítulo 3 de seu livro O mistério do ser ante a dor e a morte.
Particularmente pelo “sentir”, não há como estabelecer empatia com esses eventos, que impõem sofrimento a animais; e, em nosso entendimento racional, o inteligível, com eventuais justificativas para que continuem, também não tem acolhimento, haja vista a grande quantidade de informações que hoje temos a respeito do assunto, tanto na literatura espírita quanto na ciência acadêmica.
A Doutrina Espírita, pioneiramente, nos esclarece sobre a verdadeira natureza dos animais, como seguem, resumidamente, exemplos de algumas citações.
O livro dos Espíritos (1860):
A Gênese (1868):
Mecanismos da mediunidade (1959)
No mundo maior (1947)
A literatura acadêmica, particularmente desde a década de 1960, vem confirmando as informações que acabamos de analisar, constantes da literatura espírita, com exceção das referentes ao Espírito. Hoje os cientistas já referem os animais como “seres sencientes”, isto é, reconhecem que eles têm sensibilidade, inteligência e memória, além da capacidade de sofrimento físico e mental.
Uma importante contribuição a esse conhecimento foi prestada pelo biólogo americano Gregory Bateson (1979), que ressignificou o conceito de mente no contexto acadêmico, definindo-a como o “processo cognitivo de manifestação da vida”.Ele argumenta que todo ser vivo “sabe” sobreviver, alimentar-se, reproduzir a espécie e fugir de agentes aversivos, portanto, o “saber” de cada um vai corresponder à sua mente, mais expandida ou menos, segundo seu estágio evolutivo do momento.
Muitas publicações importantes foram surgindo em seguida, com referência a atributos mentais dos animais, como Os dragões do Éden, de Carl Sagan (1977), Animal Minds, de Donald Griffin (1994); A vida emocional dos animais, de Masson e McCarthy (1997); O parente mais próximo, de Roger Fouts (1998); The Prehistory of the Mind, de Steven Mithen (1999); e Cães sabem quando seus donos voltam para casa, de Rupert Sheldrake (1999).
Em 2012, apareceu um documento significativo, a Declaração de Cambridge, assinada por vinte e seis neurocientistas liderados pelo Dr. Philip Low, da Stanford University, EUA, em que manifestam conhecimento de que mamíferos, aves e mesmo alguns invertebrados, como os polvos, têm consciência, justificando que as mesmas estruturas que no cérebro humano são ativadas para a manifestação dessa faculdade também existem nesses animais.
Mais recentemente, pesquisas sobre o funcionamento do cérebro dos animais, no referente ao seu papel na interação com a mente, têm sido efetuadas pela Ressonância Magnética Funcional (RMF), como a de Andics et al. (2014), que estudaram a marcação de áreas cerebrais em cães ao ouvirem diferentes tipos de sons, inclusive a voz carinhosa do tutor. Concluem que “as áreas de percepção e de processamento da voz também existem nos cães, com padrão funcional semelhante ao apresentado pelos seres humanos, dados que elucidam como eles podem entrar em sintonia com os sentimentos dos seus cuidadores”.Isso condiz com o enunciado de Calderaro a respeito do papel do“cérebro como órgão de manifestação da mente, em trânsito da animalidade primitiva para a espiritualidade humana” (Luiz, 1947, cap. 3).
Essas informações que vimos, contidas tanto em obras da Doutrina Espírita quanto na literatura acadêmica, nos levam a perceber que, evolutivamente, não existe uma real separação entre seres humanos e os outros animais, pois a essência de todos é a mesma, qual seja, o princípio espiritual, que, na fase humana é chamado convencionalmente de Espírito (O livro dos Espíritos, 606a).
Perante o argumento de que, para chegar a essa fase humana, o princípio inteligente sofreu uma transformação, há de se considerar que isso não aconteceu de repente, mas, sim, mediante processo que durou muito tempo, não menos de um milhão de anos. Segundo dados da Antropologia (Neves, 2020), o Australopithecus (austral = sul, pithecus = macaco) viveu há 3,2 milhões de anos, sendo que das várias espécies do gênero humano que desse tronco surgiram, a primeira que se pode realmente considerar “humana”, o Homo eretus, teria vivido há cerca de 1,8 milhão de anos.
O conhecimento apresentado abre nossos horizontes para compreendermos que não existe motivo razoável para esse modelo de subjugação e de exploração a que o ser humano ainda sujeita os animais, situação que moralmente se agrava em se tratando de divertir-se à custa do sofrimento deles. Em A Gênese, cap. 3, encontramos explicação para esse comportamento: “[…] A fonte de propensão para o mal tem princípio no instinto de conservação, quando ainda (nos seres primitivos) não existe o contrapeso do senso moral. O mal é relativo e a responsabilidade é proporcional ao progresso realizado”.[2]
O significado do senso moral consta em O livro dos Espíritos, questão n. 629, relativamente à pergunta que Kardec fez aos Espíritos benfeitores: “Que definição se pode dar à moral? A moral é a regra da boa conduta e, portanto, da distinção entre o bem e o mal […]. O homem se conduz bem quando faz tudo tendo em vista o bem e para o bem de todos, porque então observa a lei de Deus”.
Maravilhosa a explicação de que a moral, que contempla nossas escolhas, encontra-se no “fazer o bem e para o bem de todos”.
É evidente que os animais não se divertem, pelo contrário, sofrem, o que caracteriza o evento como impróprio. Na tentativa de sensibilizar particularmente colegas médicos-veterinários a respeito de evidências de que os animais sofrem tanto física quanto mentalmente ao participarem desses eventos, em 2002, publiquei, com colaboradores, um artigo (Prada et al., 2002), referindo situações com e sem a ocorrência de lesões nos animais, pois, mesmo na ausência de ferimentos, pode acontecer que eles sofram mentalmente, como no caso de se sentirem subjugados e obrigados a situações alheias ao repertório de comportamentos próprios da sua espécie.
À guisa de exemplo, touros, cavalos e éguas que participam das provas de montaria, em rodeios, já entram na pista exibindo pulos exagerados, torções do corpo e corcovos, comportamento que nunca se vê quando eles se encontram pastando calmamente, em condições naturais. Ainda, em parceria com colega, tem sido emitidos pareceres técnicos[3] a respeito de provas de rodeio e vaquejada, que são encaminhados para setores jurídicos compondo solicitações do Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal em benefício dos animais.
[2] Para entendimento sobre o desenvolvimento do senso moral, desde as mais fases mais primitivas da humanidade, ver: Evolução em dois mundos (LUIZ, 1958). [3] Veja os Pareceres Técnicos de das médicas-veterinárias Irvênia Prada e Vania Plaza Nunes: https://www.facebook.com/104809987567496/photos/a.231144624934031/399395341442291/
No livro Conduta espírita (Luiz, 1960a, cap. 33), encontramos sábia lição que, em resumo, assim se apresenta quanto ao tema em questão:
Abster-se de perseguir e aprisionar, maltratar ou sacrificar animais domésticos ou selvagens, aves e peixes, a título de recreação […]. Há divertimentos que são verdadeiros delitos sob disfarce […]. Esquivar-se de qualquer tirania sobre a vida animal […]. Opor-se ao trabalho excessivo dos animais […]. No socorro aos animais doentes, usar os recursos terapêuticos possíveis, sem desprezar mesmo aqueles de natureza mediúnica que aplique a seu próprio favor. A luz do bem deve fulgir em todos os planos. Apoiar, quanto possível, os movimentos e as organizações de proteção aos animais, através de atos de generosidade cristã e humana compreensão. Os seres da retaguarda evolutiva alinham-se conosco em posição de necessidade perante a lei. “Todas as vossas coisas sejam feitas com caridade” […].
Nossa atitude é de gratidão perante tantos ensinamentos que Espíritos luminosos, tanto no âmbito espírita quanto da ciência acadêmica, nos trouxeram a respeito do que somos e do que são os outros animais, à custa do que passamos a entender que “não somos donos do mundo, apenas pertencemos a ele!” (Capra; Steindl-Rast; Matus, 1991), cabendo-nos a responsabilidade de sempre “escolher o bem, e para o bem de todos”(O livro dos Espíritos, questão n. 629).
ANDICS, Atilla et al. Voice-sensitive regions in the dog and human brain are revealed by comparative fMRI. Current Biology, v. 24, n. 5, p. 574-578, 2014. Doi: https://doi.org/10.1016/j.cub.2014.01.058.
BATESON, Gregory. Mind and Nature. A Necessary Unity. New York: E. P. Dutton, 1979.
CAPRA, Fritjof; Steindl-RAST, David; MATUS, Thomas. Pertencendo ao universo: explorações nas fronteiras da ciência e da espiritualidade. São Paulo: Cultrix, 1991.
KARDEC, Allan. A Gênese: os milagres e as predições segundo o Espiritismo. Araras, SP: IDE, 1995.
______. O livro dos Espíritos. Araras, SP: IDE, 1994.
LUIZ, André (Espírito). Conduta espírita. Psicografado por Waldo Vieira. Rio de Janeiro: FEB, 1960a.
______. Mecanismos da mediunidade. Psicografado por Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira. Rio de Janeiro: FEB, 1960b. (Coleção A Vida no Mundo Espiritual, 11).
______. Evolução em dois mundos. Psicografado por Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira. Rio de Janeiro: FEB, 1958. (Coleção A Vida no Mundo Espiritual, 10).
______. No mundo maior. Psicografado por Francisco Cândido Xavier. Rio de Janeiro: FEB, 1947. (Coleção A Vida no Mundo Espiritual, 5).
NEVES, Walter. A saga da humanidade. Canal USP, 2020. Disponível em: https://www.youtube.com/playlist?list=PLAudUnJeNg4sUpVQaygeymsa8fVsZjkCb. Acesso em: 20 out. 2022.
PIRES, J. Herculano. O mistério do ser ante a dor e a morte. São Paulo: Paideia, 1981.
PRADA, Irvênia L. S. et al. Bases metodológicas e neurofuncionais da avaliação de ocorrência de dor/sofrimento em animais. Revista de Educação Continuada, v. 5, fasc. I, p. 1-13, 2002. Doi: https://doi.org/10.36440/recmvz.v5i1.3278.