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irAprendemos durante a nossa vida que viver em sociedade significa lidar com regras o tempo todo. Escola, casa, trabalho, trânsito, coletivos e todos os lugares que frequentamos estão submetidos a regras. Mas será que desde pequeno é preciso conviver com normas? Sim, desde a primeira infância a criança deve entender e assimilar o processo de socialização.
Como um exercício, um treino, as regras e os limites devem ser estabelecidos gradativamente e a todo momento, levando a criança a assimilar e vivenciar, porém não podemos nos esquecer que para elas as nossas atitudes e ações têm mais valor que a nossa fala, pois são seres principalmente visuais, ou seja, reproduzem o que estão vendo. No livro O consolador, psicografia de Chico Xavier, Emmanuel responde a uma importante questão: “Qual a melhor escola de preparação das almas reencarnadas, na Terra? A melhor escola ainda é o lar, onde a criatura deve receber as bases do sentimento e do caráter. Os estabelecimentos de ensino, propriamente do mundo, podem instruir, mas só o instituto da família pode educar. É por essa razão que a universidade poderá fazer o cidadão, mas somente o lar pode edificar o homem. Na sua grandiosa tarefa de cristianização, essa é a profunda finalidade do Espiritismo evangélico, no sentido de iluminar a consciência da criatura, a fim de que o lar se refaça e novo ciclo de progresso espiritual se traduza, entre os homens, em lares cristãos, para a nova era da humanidade”.
Em um artigo publicado pelo Colégio São Francisco em Bauru, São Paulo, a psicóloga Bruna Misson ressalta: “da mesma forma, é necessário compreender qual é o tipo de disciplina que pretendemos inserir na educação dos pequenos, visto que os limites são essenciais para auxiliar na formação de um adulto mais independente e maduro e do caráter para o enfrentamento dos desafios do mundo atual. Assim, os limites ou as restrições devem ser inseridos de forma planejada e estratégica, através de comunicação clara, bem definida, em sintonia e concordância por ambos os pais”.
Além das dicas práticas de como colocar limites e regras na educação de filhos, é importante que pais e professores também sigam algumas recomendações, visando facilitar o processo:
Aprendemos por experiência, insistência, tentativas e erros e algum desgaste, trazendo muito daquilo que vivenciamos no passado com nossos pais e que acreditamos ser correto. Talvez a dica fundamental seja não desanimar ou desistir do processo de colocar limites na educação de seu filho, eles são essenciais e no futuro, ele irá agradecer!
A preocupação com o adulto emocionalmente sadio movimentou toda a história da educação. Podemos citar, por exemplo, como Johann Heinrich Pestalozzi revolucionou a sociedade no século XVIII com suas ideias educativas. Com uma educação humanitária, tendo como princípio básico a benevolência na formação de seus educandos, Pestalozzi posicionava-se a favor da generalização da instrução, para que esta fosse concebida também aos pobres. Desse modo, Pestalozzi fundou escolas que recolhiam órfãos, mendigos e pequenos ladrões e proporcionavam uma formação geral e profissional.
Para Pestalozzi, as crianças precisam de limites, porém em sua pedagogia não havia punições, sugerindo uma educação não repressiva, contrapondo com as ideias da época. Essa concepção de educação baseada na repressão ainda continuava em parte do século XIX, porém outro educador, assim como Pestalozzi, não concordava com os métodos punitivos.
Giovanni Melchiorre Bosco, mais conhecido como Dom Bosco, englobava em suas obras educativas três princípios, que compõem o tripé básico de sua educação: razão, religião e amor, formando o Sistema Preventivo, ideal de sua arte educativa. Com a intenção de desenvolver esse Sistema, Dom Bosco criou os oratórios, espaços em que crianças e jovens de classe baixa eram acolhidos para estudar, brincar e rezar. Mais tarde, as escolas profissionalizantes foram incluídas nessa educação.
Desse modo, tornam-se interessantes essas duas perspectivas educacionais, separadas pelo tempo histórico de seus idealizadores, com propostas pedagógicas pautadas em bases preventivas ao invés de repressivas.
Maria Montessori, educadora italiana, nos traz um relato importante do processo de socialização através do método aplicado no trabalho com as crianças. O artigo abaixo foi publicado originalmente em Call of Education, vol. 1, n. 1, no ano 1924, e ressalta a importância e a facilidade de uma convivência social “sadia”, monitorada por regras.
“A vida social não consiste em um grupo de indivíduos permanecendo sempre muito próximos, um ao lado do outro, nem no avanço em massa sob o comando de um capitão, como um regimento em marcha – nem em uma sala comum de escola infantil. A vida social do homem tem suas bases no trabalho, harmonicamente organizado, e sobre as virtudes sociais – e essas são as atitudes que se desenvolvem em um grau extraordinário entre nossas crianças. Constância no trabalho, paciência quando devem esperar, o poder de se adaptarem às inúmeras circunstâncias que se apresentam diariamente, no convívio uns com os outros, a ajuda recíproca, e assim por diante, todos são exercícios que representam uma vida social prática e real, e que nós vemos, pela primeira vez, sendo organizada entre as crianças em uma escola. De fato, onde as escolas costumavam estar equipadas somente para acomodar as crianças, sentadas lado a lado, e se esperava que recebessem do professor (podemos dizer que de forma quase parasítica), nossas escolas, ao contrário, têm um equipamento que é adaptado a todas as formas de trabalho necessárias em uma pequena comunidade ativa e independente. O trabalho individual no qual a criança é capaz de isolar-se e concentrar-se, serve para aperfeiçoar sua individualidade, e quanto mais perto o homem chega da perfeição, melhor ele é capaz de se associar harmonicamente com os outros. Um movimento social forte não pode existir sem indivíduos preparados, assim como os membros de uma orquestra não podem tocar juntos harmonicamente a não ser que cada indivíduo tenha sido treinado por exercícios repetidos quando sozinho.”
BALDINI, Laura; VAZ, Juliana. Maria Montessori, professora de uma Nova Era: a mulher que revolucionou a educação. São Paulo: Melhoramento, 2021.
EMMANUEL (Espírito). O consolador. Psicografado por Francisco Cândido Xavier. 28. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1940.
GURGEL, Thais. Brincando com regras. 2006. Disponível em: https://novaescola.org.br/conteudo/124/jogos-ensinam-a-encarar-vitorias-e-derrotas-com-naturalidade. Acesso em: 25 out. 2022.
INCONTRI, Dora. Pestalozzi: educação e ética. Pensamento e ação no magistério. São Paulo: Scipione, 1996.
PERAZZO, Tatiane Franco. Pedagogia de Pestalozzi e sistema preventivo de Dom Bosco: influências e aproximações. 2011. Monografia (Graduação em Pedagogia) – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Rio Claro, SP, 2011.SALOMÃO, Gabriel. Individualidade e socialização na sala montessoriana. 2013. Disponível em: https://larmontessori.com/2013/09/22/individualidade-e-socializacao-na-sala-montessoriana/. Acesso em: 25 out. 2022.