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Fanatismo ou efeito manada? Por que precisamos refletir sobre isso?

Estamos vivendo no Brasil e no mundo um momento muito complicado, que traz muita preocupação e impacta as pessoas. A agressividade, a violência e a intolerância têm batido em nossas casas e na nossa comunidade, e esses comportamentos vêm se agravando com as redes sociais. São famílias e amigos separados, grupos desfeitos. Diante disso, é preciso refletir: seria isso uma forma moderna de um comportamento de manada? Onde entra o fanatismo nesse perigoso caminho?

O médico psiquiatra Roberto Lúcio Vieira de Souza (foto) – vice-presidente da Associação Médico-Espírita do Brasil (AME-Brasil), diretor clínico do Hospital Espírita André Luiz (BH), psiquiatra e psicoterapeuta do Instituto de Assistência Psíquica Renascimento (BH) – explica que, a partir do momento que a tecnologia consegue abranger um grande grupo de pessoas, vai sempre as envolver com características específicas em grupos, que se reforçam de vários pontos de vista: das ideias que trazem, dos sentimentos que compartilham, das energias que esse compartilhamento produz e das sintonias que a partir disso tudo se constrói.

Dr. Roberto salienta que “O comportamento de manada se caracteriza por algumas questões que devemos refletir. E quando ele chega ao nível que estamos vivendo em várias partes do mundo em termos de fanatismo, temos de lembrar que isso surge de uma defesa obsessiva que uma criatura, ou grupo de criaturas, que vive esse tipo de sentimento e comportamento tem de que estaria como em um precipício, segura pela ponta de uma pedra. E essa ponta passa a construir a vida dessa criatura. Não existe uma crítica porque, na fragilidade presente ou por trás desse comportamento, não se pode de maneira nenhuma abrir espaço para avaliação ou questionamento, porque isso vai colocar a criatura ou seu grupo em situação de ainda maior fragilidade, e ela não tem como viver de outra forma”.

E o que isso significa? “Muitas pessoas interpretam o comportamento fanático, sempre presente na história, como algo forte, mas, na verdade, o que vemos é uma imensa fragilidade, inclusive espiritual, tão intensa que o indivíduo tem de se esconder porque um sopro pode jogá-lo no chão. Então, ele não pode permitir que outras ideias entrem na vida dele. A relação dele com a ideia, com o comportamento, é algo apaixonante. E paixão, muito diferente de afeto e de amor, é algo extremamente doentio. Duas grandes características desse comportamento são a intolerância e a violência diante de ideias contraditórias – quando não sou capaz de lidar com essas duas ideias e raciocinar sem correr risco de perder a força e cair do abismo. Então, com o fanatismo, o movimento de manada, as pessoas nem sabem o que estão fazendo. É um regime de fragilidade, postura da criatura que se defende de outra ideia porque se ela perder esse norte não vai ter nenhuma verdade na vida. Esses comportamentos não são caracterizados como doença psiquiátrica, mas, sim, como um comportamento disfuncional”, esclarece.

Sofrimento emocional e transtorno mental

Pessoas fanáticas e que seguem um comportamento de manada têm mais possibilidade de desenvolver sofrimento emocional e transtorno mental. E isso é um movimento muito tênue, de acordo com o psiquiatra. Essa corda onde essa criatura está é muito perigosa, porque pode, de repente, se tornar realmente um transtorno mental.

Sobre isso, Roberto Lúcio Vieira de Souza nos traz mais informações nesta entrevista.

“Pessoas que têm posturas diferentes, mas não são fanáticas, têm capacidade de escutar uma outra opinião. Na estrutura fanática, eu tenho de aniquilar tudo o que seja diferente, tudo o que me incomoda, tudo o que possa entender, que possa me tirar do poder, do lugar que estou.”

Folha Espírita – Uma coisa que nos assusta muito diz respeito à proliferação de inverdades propagadas por esses movimentos de manada, destruindo pessoas que pensam de maneira diferente e tentando aniquilar o outro. Agora, se colocássemos um propósito do bem, não poderia ser algo positivo ao invés de ser isso apoiado nas inverdades, fake news, imagens que são destruídas e no combate ao inimigo? Por que esse movimento é tão ligado às situações de vingança, violência e de ódio? Por que acontece dessa maneira?

Roberto Lúcio Vieira de Souza – Não podemos nos esquecer que as estruturas fanáticas da história não são construídas no mundo físico. Então, geralmente, todos esses movimentos têm como propósito provar que o amor não tem e não faz sentido, assim como que a única maneira de você ter poder e ser feliz é através da violência, tendo essa conduta. Elas fazem apresentar inúmeras inverdades, e uma estruturação que venha de um pensamento inferior só pode trazer inverdades.

Para criar uma proposta contra a que o Cristo representa na Terra – embora os seus avatares sejam muitos e tenham se manifestado em todos os tempos da história –, você tem que tentar aniquilá-la através da mentira e da violência. Esses dois elementos, por exemplo, buscaram calar Sócrates. As inverdades ditas sobre o que ele fazia com os seus discípulos e a violência daquele grupo de pessoas, que não tinha interesse pela situação, foram a maneira que tinham de aniquilá-lo. O mal, na sua manifestação, tem uma crença básica: tudo o que não seja o mal tem que ser aniquilado. A coisa mais pesada do processo de fanatismo é essa colocação, porque pessoas que têm posturas diferentes, mas não são fanáticas, têm capacidade de escutar uma outra opinião. Na estrutura fanática, eu tenho de aniquilar tudo o que seja diferente, tudo o que me incomoda, tudo o que possa entender, que possa me tirar do poder, do lugar que estou.

Foi isso que foi feito com Cristo. Sobre a condenação, me lembro de uma das falas de Sócrates quando lhe afirmaram: “Sócrates, o que eles estão fazendo não é justo”. E ele perguntou: “vocês acham que poderia ter justiça? Essas estruturas não são justas e se constituem em inverdades”. Porque é esse o propósito. Se fosse pensar nesse dualismo que existe na nossa mente, do bem e do mal, do Deus e do demônio, essas estruturas têm que ser contrárias às propostas do bem.

A humanidade aceita porque a grande maioria vive numa infância espiritual, emocional e intelectual. Vivemos de pensamentos mágicos. Continuamos caminhando nos mesmos processos que a humanidade caminhava há milênios. As pessoas não têm raciocínio, não têm conteúdo para raciocínio, elas se perdem. Conhecimento não nos transforma em pessoas melhores. Temos de pensar, por exemplo, que o desenvolvimento tecnológico da Terra aumentou a expressão do materialismo. E esse materialismo é fruto de uma compreensão do conhecimento científico de maneira superficial. Ter noção e conhecimento não significa que sejamos capazes de mudar nossa visão.

Na nossa vida, continuamos no mesmo lugar, que é do pensamento mágico, e um dos pensamentos mágicos mais complicados e que serve ao fanatismo é o modelo, é um arquétipo do salvador. Porque, na verdade, o que a gente quer é isso. É alguém que nos salva. Há pessoas até hoje procurando por isso. A teoria que se construiu de Jesus como salvador da humanidade, e não o Salvador, como quem ensina, mas como quem faz por, prevaleceu nesses dois mil anos na cabeça de todos nós. Queremos que Jesus, Deus, o Espírito, seja lá quem for, faça por nós e nos salve. Então o fanático, na sua desestrutura, arrumou uma pedra, algo que ele acredita que vai salvá-lo e que, pior, vai dar poder a ele para mandar em tudo e salvar a humanidade, talvez até exterminando e matando, porque assim acha que está salvando as pessoas.

“A teoria que se construiu de Jesus como salvador da humanidade, e não o Salvador, como quem ensina, mas como quem faz por, prevaleceu nesses dois mil anos na cabeça de todos nós. Queremos que Jesus, Deus, o Espírito, seja lá quem for, faça por nós e nos salve. Então o fanático, na sua desestrutura, arrumou uma pedra, algo que ele acredita que vai salvá-lo.”

Esse comportamento disfuncional é uma perda de identidade, na qual todos se igualam e juntos vão para cima daquele que não concorda, tratando-o como inimigo. Depois, muitos se arrependem.

A primeira coisa que é importante pensar é que ninguém pode forçar o outro a sair desse lugar, assim, qualquer movimento de força é só um movimento de sustentação desse mesmo lugar. É preciso entender que algumas situações e a tecnologia só vêm mostrar que elas estão presentes na nossa vida desde sempre. Então, a primeira coisa que precisamos compreender é que todas essas pessoas – tendo cuidado porque em determinados momentos somos nós que agimos assim – acreditam que são senhores de suas decisões.

Enquanto tivermos essa falsa ideia de que decidimos as coisas, que não há nenhuma influência externa fazendo isso, que escolhi isso pelo meu raciocínio, pela minha inteligência, minha competência e minha capacidade, vamos correr o risco de cair nesse lugar. E isso é muito interessante de se pensar, porque os Espíritos falam que na maioria das vezes são os Espíritos que nos comandam. Na realidade, não são os Espíritos no sentido de desencarnado, e sim os pensamentos que predominam na Terra com os quais sintonizamos e que nos fazem tomar decisões que acreditamos que são nossas, mas que não são.

Então, a primeira questão complexa de se trabalhar com esse tipo de situação é entender que isso é uma crença de todas essas criaturas, de todos os tipos de fanatismo. O indivíduo acredita que decide por ele mesmo. Assim, somos levados a tomar decisões por estímulos subliminares. Se você parar e pensar nessas duas coisas que estou falando e retomarmos um texto histórico fora do momento atual, qualquer coisa desse momento atual vira fogo, vira tempestade, mas não é isso que queremos, então o que aconteceu?

Jesus foi levado a ser crucificado. O povo foi recebendo informações subliminares de que Jesus estava enganando as pessoas – esse era o esforço que o farisaísmo e os sacerdotes faziam. E depois, num momento mais crucial, foi dada ao povo a falsa ideia de que, com base em tudo o que tinha acontecido e no que tinha movimentado emocionalmente, a decisão de quem ia ser crucificado seria do povo. Num primeiro momento, muitos deles devem ter acreditado e talvez até desencarnado acreditando que tinham feito a escolha certa. Então, a primeira coisa que precisamos aprender é como agir com a questão da crítica, do raciocínio. De não repetir algo que vemos acontecendo o tempo todo.

Segundo a proposta do Espiritismo, para o entendimento das revelações do fenômeno mediúnico é preferível rejeitar 100 verdades do que aceitar uma só mentira. E aí, sejamos sinceros, o que mais vejo dentro do Movimento Espírita são pessoas aceitarem mentiras e não se permitirem a determinados questionamentos. Vejo reuniões mediúnicas que acabam e que ninguém se propõe a criticar. Aí aparece um monte de livros com um monte de coisas que são infundadas ou que não podem ser comprovadas.

As pessoas viram objeto de crítica pela questão do fanatismo. Desse modo, primeiramente, precisamos admitir que, na grande maioria das vezes, aquilo que acreditamos ser nossas decisões não são nossas. Devemos buscar quais os estímulos subliminares que estamos nos submetendo quando falamos de determinadas coisas.

“Os Espíritos falam que, na maioria das vezes, são os Espíritos que nos comandam. Na realidade, não são os Espíritos no sentido de desencarnado, e sim os pensamentos que predominam na Terra com os quais sintonizamos e que nos fazem tomar decisões que acreditamos que são nossas, mas que não são”.

FE – Quais são os pilares básicos que devemos eleger para nossas vidas para evitarmos a influência espiritual e não fazermos parte dessas ondas de fanatismo e desse comportamento de manada que vai nos levar a situações de sofrimento e de adoecimento?

RLVS – O que vemos no fanatismo é um desequilíbrio. Então, o que se precisa é de equilíbrio. Hoje, muitas pessoas se sentem incomodadas com as posturas fanáticas que se espalham na Terra. Eu atendo os fanáticos o tempo todo, e, neste momento do Brasil, eles sobram. Mas também atendo pessoas que acham que o outro é fanático. Então, isso já é um sinal perigoso para nossa vida, porque se somos capazes de ver um fanatismo no outro é porque essa postura já fez presença na nossa vida. Porque eu só identifico no outro algo que mora dentro de mim.

Precisamos cultivar equilíbrio, mas para isso algumas perspectivas são importantes. Eu tenho que ter equilíbrio. Eu preciso focar a minha atenção e usá-la para perceber não a postura do outro, mas, sim, onde eu estou, em que lugar estou e em que condição estou. Depois preciso ter equilíbrio do meu conhecimento. Tenho de evitar fazer e caminhar com o piloto automático. Não podemos acreditar em coisas sem pensar em questionamentos. Todas essas teorias fanáticas que vêm na história são cheias de contradição. O fanatismo cristão fala de amor e muda a guerra; o ódio manda matar, põe na fogueira, faz isso, faz aquilo, o que é totalmente contraditório com a proposta de Deus.

“A gente tem de desenvolver um propósito na vida, um sentido baseado nos valores humanos, na dignidade, na honestidade, na humildade, no amor e na bondade. Temos que desenvolver propósitos bons, porque o fanático não tem um propósito ruim, às vezes nem tem um propósito, porque ele é levado a uma atitude que o engana. Mas ele não tem ideia do que acontece”.

Precisamos prestar atenção em quais emoções estamos nos calcando, nos colocando, para usar melhor as nossas emoções. Não existe emoção boa ou má, pois ela é neutra. É como eu olho ou a uso é que é o problema. A tristeza não é uma emoção negativa, apenas me leva para dentro para me perguntar o que está acontecendo. A raiva não é uma emoção negativa, é somente uma emoção que vai me fazer pensar o que devo fazer para não mais senti-la. Então, temos de buscar esse equilíbrio emocional, mas, mais do que isso, motivacional. Temos que desenvolver um propósito na vida, um sentido baseado nos valores humanos, na dignidade, na honestidade, na humildade, no amor e na bondade. Temos que desenvolver propósitos bons, porque o fanático não tem um propósito ruim, às vezes nem tem um propósito, porque ele é levado a uma atitude que o engana. Mas ele não tem ideia do que acontece.

A grande maioria do povo alemão desconhecia a existência dos campos de concentração. Grande parte dos alemães só foi ter ideia do que eram quando os russos tomaram Auschwitz. Então, precisamos desenvolver propósitos, mas baseados nos valores humanos. O que acontece hoje na Terra é que estamos os deixando de lado.

“Uma coisa que me assusta é ver, por exemplo, a dificuldade do Movimento Espírita em retomar as atividades. O comodismo ficou muito mais fácil do que assumir o trabalho, enfrentar as coisas que deviam ser enfrentadas para a continuidade da tarefa. Inúmeros centros espíritas fecharam. No Hospital Espírita André Luiz, havia quase 400 voluntários antes da pandemia. Hoje não há mais que 150”.

Este momento da Terra é de uma grande descrença, inclusive religiosa. Há problemas das lideranças no mundo. Grande parte delas não é exemplo, está brigando com o poder e está preocupada com a sua vaidade. Esse é um problema. Não temos liderança ética e moral na Terra. Não dá para somar cinco pessoas que pudessem ser lideranças éticas na Terra com evidência. Não temos liderança política no mundo. A política se preencheu de corrupção, de mentira, de todos os desvarios possíveis em todos os lugares. O século XX escancarou para o mundo que nenhum movimento político é 100% eficiente. Vivemos todos os movimentos políticos no século XX, desde tentativas de democracia até o absurdo dos Estados totalitários que ainda temos por aí.

Então, esse processo passou por tudo. Ninguém acabou com a fome, com a miséria. Não deu infraestrutura, capacidade, porque os problemas não são as teorias, e sim o homem, que, no seu egoísmo, as usa para ter poder para atender a sua vaidade. Grande parte das lideranças da história do século XX seria classificada pela psicanálise como personalidade narcísica. Quando você chega ao mais grave que a personalidade narcísica, você está diante de um psicopata. Infelizmente, estamos cheios de personalidades narcísicas muito doentes nas lideranças, e elas se coadunam com as trevas, que querem a descrença da doutrina do amor, de Jesus.

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