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Quando meu filho me disse que era filha…

Eu andava pelo mundo falando para os pais que eles precisavam prestar atenção nos seus filhos, mas foi justamente essa a parte do meu discurso que me trouxe a realidade. Confesso que como a maioria dos pais, eu só prestava atenção naquilo que entendia ser importante para que um filho fosse feliz, segundo os padrões tidos como normais. No entanto, aprendi que não podem existir padrões de normalidade coletiva quando o ser individual não é feliz com si mesmo.

Então, eu percorria escolas, e no contato com crianças e jovens, fui descobrindo o diverso, o “diferente”, que hoje sei que é normal. Diferente era eu, que sofria de um daltonismo moral e limitante. E foram as crianças e os jovens que foram colorindo a retina da minha alma para que eu enxergasse um mundo mais bonito. Meu discurso foi mudando e me felicitando por ter a fala alinhada com a vida. E foram tantos os garotos e garotas que me procuraram pedindo acolhimento emocional que fui me sentindo um pouco pai de todos.

Meninos e meninas homoafetivos, garotos e garotas trans, que se sentiam desembarcados de naves espaciais porque eram vistos como extraterrestres, rejeitados dentro de suas próprias casas. E sendo um pouco pai de todos, descobri o pai que não tinha sido para meus próprios filhos. Mas o que podia fazer, já que o tempo havia passado e meus filhos haviam crescido?

O tempo foi passando e fui reafirmando meu discurso plural e acolhedor. Uma lição que aprendi é que a vida em algum momento nos convida a colocar em prática os discursos reafirmados e decantados durante a vida. E foi assim que, numa manhã, recebi uma ligação do meu filho onde ele me disse que estava submetido a tratamento psiquiátrico porque havia se aceitado como mulher trans. Após a notícia, houve um silêncio em minha alma, onde fui asfixiando a herança da educação machista e preconceituosa que recebi na minha infância. As primeiras palavras que proferi, já me sentindo grávido, foram: “O que isso muda no amor que sinto por você? Eu te amo!” O silêncio agora era do outro lado da linha, pude ouvir a quietude da alma dela gritando.

Coloquei a mão sobre o meu coração e constatei que ele se dilatara, estava grávido, mas não da forma social, agora eu teria a oportunidade de gerar dentro de mim a essência espiritual que pedia para nascer e ser acolhida por mim. Assim, me dei conta, no meio daquele turbilhão de emoções, que precisava pedir perdão. E disse: “Me perdoe, ando pedindo aos pais por onde ando para prestarem atenção em seus filhos, mas parece que não prestei atenção em você”. Ele, que jamais foi de frequentar qualquer prática religiosa, revelou-se um cristão de verdade me dizendo que eu não precisava pedir perdão, porque ele me entendia perfeitamente. Despedimo-nos, e pude sentir enjoos e tonturas típicas de uma gravidez.

A gestação era real, e a partir do dia seguinte, comecei a exercer minha nova paternidade. Logo pela manhã, enviei uma mensagem de “bom dia” e já substituí o artigo masculino definido “o” pelo feminino “a”. E soou da minha alma o meu primeiro: “Bom dia, filha!” Depois, “boa tarde, filha”, “boa noite, filha”, “Como vai, filha”…

Tive dificuldades para dormir por quinze dias, aproximadamente, mas não porque tinha uma filha trans, pelo contrário, na verdade tinha medo do que o mundo podia fazer com a minha filha. Fui vencendo o medo, e a gravidez não corria riscos; sofreria o aborto espontâneo da ignorância, e jamais rejeitaria a gravidez. Eu era um pai grávido por obra do “espírito santo”, o Anjo Gabriel me visitou num sonho e disse que os pais não devem rejeitar seus filhos nunca.

O Anjo Gabriel me falou com sua voz angelical que aquela filha que era gerada em meu coração era filha de Deus. E foi assim que me senti pai de verdade, sem máculas e exigências para que minha filha atendesse às minhas expectativas, me fazendo sentir confortável dentro do mundo dos outros. Agora havia aprendido que ela precisava se sentir confortável dentro do mundo dela e que eu deveria apenas segurar na sua mão.

Quando fui encontrá-la pela primeira vez em sua forma feminina, levei flores para ela, escrevi um cartão falando do meu amor. Escolhi os mais belos botões e subi onze andares pelo elevador em trabalho de parto. Contrações intensas na minha alma dilatavam meu ser para que ela viesse ao mundo plena e saudável, como veio. O elevador parou, e caminhei em direção à porta do apartamento tocando a campainha. A porta se abriu, e ao me ver com as flores nos braços, ela caiu em pranto; essa coisa de mulheres.

Da minha parte, a bolsa de lágrimas amnióticas rompeu e lavou minha alma. Abraçamo-nos, e ela nasceu num parto sem dor e rejeição. Ela foi crescendo e se sentindo cada vez mais forte. Hoje ela anda pelo mundo das próprias escolhas sendo feliz. O caráter não mudou, segue como um ser humano íntegro e produtivo. A condição sexual, a cor da pele e o uso de piercings e tatuagens não definem o caráter de ninguém. Hoje, ando pelo mundo contando a minha história, me tornando pai de muitos órfãos homoafetivos e trans rejeitados pela família, infelizmente. Quanto ao Anjo Gabriel, de vez em quando ouço sua voz em meu ouvido: “Acolhe os filhos de Deus amando a essência de cada um”.

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