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irEstamos diante de uma das questões mais importantes para respondermos a nós mesmos. As questões n. 715 e 716 de O livro dos Espíritos nos guiam: “715. Como pode o homem conhecer o limite do necessário? Aquele que é ponderado o conhece por intuição. Muitos só chegam a conhecê-lo por experiência e à sua própria custa. 716. Mediante a organização que nos deu, não traçou a Natureza o limite das nossas necessidades? Sem dúvida, mas o homem é insaciável. Por meio da organização que lhe deu, a Natureza lhe traçou o limite das necessidades; porém os vícios lhe alteraram a constituição e lhe criaram necessidades que não são reais”.
A necessidade da compreensão dessas questões nos chega de forma emergencial. Chegamos a uma quadra decisiva na história. Seremos chamados a responder de forma efetiva pelas privações que temos ocasionado, ou seja, a escassez do necessário para muitos em detrimento do supérfluo para poucos. O alerta da Espiritualidade veio no século XIX, mas passados quase 200 anos, a impressão que temos é que caminhamos na direção contrária.
Aumentamos de forma brutal a nossa ilusão do necessário, nos lançamos nos chafurdais do consumismo ensandecido, sob o pretexto de um desenvolvimento socioeconômico pungente, mas ao que parece só complicamos ainda mais nossa situação. É o que podemos constatar no último relatório da ONU sobre a fome e a insegurança alimentar, intitulado The State of Food Security and Nutrition in the World[1], publicado em julho de 2023.
Os dados são desesperadores. Há mais de 2,3 bilhões de pessoas em situação de insegurança alimentar no mundo. Com a incerteza de conseguirem alimentos, são forçadas a diminuírem a quantidade ou a mudarem a qualidade do que se alimentam, ou seja, não conseguem ter uma dieta minimamente saudável. Impressionante também constatarmos que 735 milhões de pessoas passam fome no mundo.
Em nosso país, temos 21 milhões que não têm o que comer diariamente e 70,3 milhões em insegurança alimentar. O importante relatório, além da constatação do quadro estarrecedor, traz também recomendações sobre políticas, investimentos e ações necessários para enfrentar esse desafio. Um dos pontos apresentados é que existe um aumento das compras de alimentos das famílias, principalmente em áreas urbanas, sendo expressivas as compras de alimentos ultraprocessados. Isso mostra que um dos motivos da escassez para alguns é que outros estão consumindo mais. E as notícias ruins não param por aí, pois além de o consumismo exagerado levar ao sofrimento milhões de pessoas, ele resulta em sistema de sobrecarga em nosso planeta.
A WWF anualmente divulga o Dia da Sobrecarga da Terra, e este ano foi dia 2 de agosto. Essa data significa que ultrapassamos a capacidade da Terra em renovar os recursos naturais em 365 dias, assim, daqui para frente, estamos consumindo além dessa capacidade. Será que a fome de milhões de nossos irmãos e a evidente sobrecarga no planeta não constituem razões suficientes para nossa reflexão?
É preciso que avancemos na direção de uma autoavaliação, com um olhar consciente, para respondermos de forma individual sobre o que nos é necessário e o que é supérfluo. A mudança de nossas atitudes não só nos ajudará a vencer nossos vícios e o apego excessivo com a matéria como também, de forma efetiva, ajudaremos na construção de um cenário mais equilibrado, onde o equilíbrio entre o que é escasso para muitos possa ser suprimido pelo que excede para outros.
Sigamos atentos para que o bom senso e os valores cristãos que elegemos para nossas vidas sejam colocados em prática e para que possam ser nossas bússolas para escolhas mais equilibradas.
Façamos nossa parte!
[1]https://www.fao.org/publications/home/fao-flagship-publications/the-state-of-food-security-and-nutrition-in-the-world/en