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E o adúltero? Onde está ele?

Dias destes, estava fazendo o Evangelho no Lar on-line e o título da lição de n. 85 do livro Pão Nosso,de autoria de Emmanuel, psicografo por Chico Xavier, era “E o adúltero?” Baseado no livro de João 8:4: “E, pondo-a no meio, disseram-lhe: Mestre, esta mulher foi apanhada, no próprio ato, adulterando”. Trata-se da passagem da mulher adúltera, que foi levada até Jesus pela multidão para ser apedrejada, segundo a lei e os costumes vigentes à época.

Certamente nos lembramos do final da história, depois que Jesus, tranquilamente, respondeu à má intencionada pergunta que lhe fizeram. O Mestre simplesmente disse que aquele que não tivesse pecado atirasse a primeira pedra, e para espanto geral, ninguém ousou atirar uma pedra que seja e cada qual tomou seu rumo.

Entretanto, a abordagem de Emmanuel na lição do Pão Nosso chama a atenção para as significativas considerações envolvidas nessa lição de Jesus. Ele nos faz refletir sobre a tendência de o homem ver o mal em seu semelhante sem enxergá-lo em si mesmo. Emmanuel sabiamente argumenta: “Entre as reflexões que a narrativa sugere, identificamos a do errôneo conceito de adultério unilateral […]. Se a infeliz fora encontrada em pleno delito, onde se recolhera o adúltero que não foi trazido a julgamento pelo cuidado popular? Seria ela a única responsável?” Questiona Emmanuel. “Se existia uma chaga no organismo coletivo, requisitando intervenção a fim de ser extirpada, em que furna se ocultava aquele que ajudava a fazê-la?”

A atitude do Mestre é muito atual e eivada de justiça. Ele não podia centralizar o peso da culpa na mulher desventurada e, deixando perceber o erro geral, indagou dos que se achavam sem pecado. E o grande e espontâneo silêncio que se fez constituiu resposta mais eloquente que qualquer declaração verbal.

A análise de Emmanuel nessa narrativa vem ao encontro das grandes questões sociais da atualidade. Perceba que ele questiona onde estaria o adúltero, visto que nenhuma mulher se torna adúltera sozinha. O ato de adultério precisa necessariamente de mais pessoas envolvidas para se consumar; ninguém é adúltero sozinho. No entanto, somente à mulher cabia a punição e o dever de dar o exemplo. Aliás, infelizmente, até hoje nos deparamos com esse tipo de entendimento em relação aos erros cometidos por uma mulher, inclusive na sociedade ocidental. A mão da pseudojustiça pesa mais sobre a mulher.

E o homem? Aquele que não raro é o responsável pela conduta feminina, que sofre diretamente com o fascínio ou a opressão por ele exercida. Emmanuel lembra na mesma lição que ao lado da mulher adúltera permaneciam também os homens pervertidos, que se retiraram envergonhados.

A abordagem de Emmanuel nessa lição pode ser comprovada no livro Contos e apólogos, de Humberto de Campos, também psicografado por Chico Xavier. Desde já sugiro a leitura da lição 14, intitulada “A lição do discernimento”, que nos conta exatamente o que se sucedeu após a terrível cena do quase apedrejamento da pobre mulher.

Resumindo, após o episódio da mulher adúltera, Pedro abordou Jesus encafifado. Ele não tinha certeza se o fato de Jesus ter deixado a mulher ir, sem ter sofrido a corrigenda convencionada naquela época para as mulheres que prevaricassem, foi a melhor medida. Assim, questionou Jesus, alegando se não seria um mal exemplo, ou mesmo uma ameaça à tranquilidade das famílias, uma vez que poderia representar um quadro de lama para as crianças.

Diante dos questionamentos do discípulo, Jesus serenamente pondera sobre qual seria a real situação daquela mulher. Quantas lágrimas teria vertido até que chegasse à queda final? Continuando, acena para a possibilidade de haver um responsável por trás de tudo, que incentivou o primeiro impulso para que o coração feminino sucumbisse.

Foi então que Pedro, ouvindo as ponderações do Mestre, se posicionou no sentido de fazer justiça, dando assim merecida lição no responsável pela desdita mulher. Naquele momento, Jesus e Pedro foram abordados por uma pobre velhinha, dizendo-se tia da moça alvo do apedrejamento, que contou que a sobrinha dela chegou naquele ponto porque rejeitou um homem que a importunou no mercado. Ele, por vingança, aos berros, apontou a mulher como adúltera, e o resto a gente já sabe.

Tem outro detalhe dessa lição que terão de ler no referido livro ao final do capítulo, que é a conclusão do mentor de Chico Xavier: “Se as mulheres desviadas da elevada missão que lhes cabe prosseguem sob triste destaque no caminho social, é que os adúlteros continuam ausentes da hora de juízo, tanto quanto no momento da célebre sugestão de Jesus”.

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