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irMarlene Nobre
A rua tranquila e a sombra amiga das árvores tocavam-me profundamente a sensibilidade, suscitando em meu Espírito a mesma ânsia que me causou Beethoven tantas vezes: absorver a amenidade da natureza. Embora as interrogações íntimas naturais, quando partimos para uma primeira entrevista, o ambiente acolhedor da rua tépida acompanhou-me ao interior da residência confortável. Estava diante de Olegário Tolói de Oliveira: figura esguia, gestos francos, sinceridade na acolhida fraterna. Certamente, esse nome passaria despercebido para muita gente, mas era ele mesmo – Dudu – o notável craque palmeirense, preocupado tão somente em transmitir sua convicção espírita, em trocar ideias sobre Espiritismo, com a integridade que lhe compõe, admiravelmente, o caráter.
A nossa curiosidade levou-nos longe. O pai falecera quando Dudu contava 12 anos. A mãe-heroína desdobrava-se, lavando roupa, preparando marmitas para pensionistas, e o menino Dudu – esse o apelido carinhoso com que seu avô paterno o tornaria amado de tanta gente – inicia cedo os duros percalços do trabalho para auxiliar a família. Fala com veneração de seus tios – irmãos de sua mãe –, “pessoas de muito amor e grande fé religiosa que os auxiliaram muitíssimo nesses anos difíceis”! Pela força do exemplo de seus tios, tornou-se, nessa ocasião, católico fervoroso, sentindo neles o apoio cristão das horas difíceis. Com essa ajuda, começou a trabalhar no Escritório Tolói de Contabilidade, posteriormente no Cacique, Companhia de Automóveis de Araraquara, e na Estrada de Ferro Araraquarense. Com sacrifícios, formou se contador, desdobrando-se nos estudos noturnos, após o esforço do trabalho diurno. Jogava bastante futebol, mas não pensava em se tornar profissional. Somente mais tarde pôde definir-se, quando sentira a possibilidade de sustentar-se e à própria família com o futebol. Estava integrado na Ferroviária de Araraquara, como seu próprio pai já o fora no passado, e daí para a Sociedade Esportiva Palmeiras foi apenas um passo.
Em 1964 veio para São Paulo, integrando-se, definitivamente, no clube venerado, que o abriga até hoje. Mas iniciaram-se, igualmente, muitas lutas em outro setor. Já casado, não tinha harmonia dentro do lar, a esposa permanecia sempre doente, e Dudu inúmeras vezes teve de se desdobrar entre os labores domésticos e as obrigações com a profissão. Não encontrava explicação para tantos problemas, justamente agora quando seu casamento apenas começava, a sua primeira filhinha nascia. Maria Helena – sua doce e fiel companheira – conhecia as raízes mais íntimas de sua doença, sabia-se médium necessitada de amparo das reuniões espíritas a fim de equilibrar-se, no entanto, não ousava contrariar o companheiro, que, nessa ocasião, não admitia qualquer alusão à Doutrina Espírita.
O desespero, o nervosismo crescente e a falta de paz conduziram Dudu ao campo das verdades eternas. Chegara com os olhos esbugalhados e as faces atormentadas para uma reunião espírita em casa de um parente na Vila Mariana. O pai falecido, desde 1953, falara-lhe nessa noite memorável – ponto de encontro de uma nova vida: “Filho, pare e pense porque a vida não é como você está pensando”. Recebeu conselhos de outros Espíritos, pediram-lhe que lesse com atenção os livros espíritas e meditasse nas verdades neles contidas. Naquela noite deixou um peso enorme para trás. O semblante aquietou-se. Desde então, nunca mais deixou a companhia do livro espírita. Começou com Nosso Lar, de André Luiz, e O livro dos Espíritos, de Allan Kardec. Devorou a coleção inteira de André Luiz – livros psicografados por Francisco Cândido Xavier –, e até hoje a leitura espírita é seu sustentáculo permanente, sobretudo nas concentrações constantes que precisa realizar com o Palmeiras nas excursões pelo Brasil e pelo exterior.
Antes era muito nervoso e deixava também os companheiros muito perturbados. A religião espírita modificou sua conduta. “Depois que se tornou espírita passou a merecer muito mais respeito no meio dos colegas, no próprio clube e entre os jornalistas da crônica esportiva. Impõe-se agora pelo procedimento e pela moral, pois sentiu necessidade de disciplinar-se”. Os dirigentes do Palmeiras – segundo ainda informação de Maria Helena e de dona Elvira Becker, amiga da família presente na entrevista – pretendem erigir uma estátua de Dudu, mas ele reage, não deseja tal homenagem. “Antes de entrar em campo oro muito a Deus, pedindo para que não aconteça nada com o povo que comparece ao estádio, para todos os jogadores, tanto os palmeirenses quanto os do clube adversário, pois todos necessitam da profissão para viver. Aproveito as concentrações para ler livros espíritas, sinto com isso muito auxílio e, principalmente, reforço minha moral para vencer as tentações e fugir das propostas menos dignas”.
“Se eu não tivesse o conhecimento da Doutrina Espírita, acredito que não mais estaria jogando futebol, pois sou na minha posição de meio de campo, o único que se mantém há tanto tempo” (há dez anos está no Palmeiras e já tem 34 anos). “Tenho recebido fluidos vitais muito bons e forças no pensamento”. Na sessão espírita que frequenta havia sido informado pelos Espíritos de que seu contrato seria prorrogado, como realmente o foi, para mais um ano. A alegria foi geral, a de toda a família palmeirense e, principalmente, a de sua esposa – principal incentivadora de sua brilhante carreira. É o jogador de maior recuperação em campo, dentro de sua idade. O próprio médico do Palmeiras, Dr. Naercio Santos Ferreira, não entende como a resposta orgânica de Dudu é tão rápida, além da expectativa. Certa vez, Maria Helena lembra-se bem da data – 3 de setembro de 1972 –, Dudu teve uma contusão muito séria, tendo sido retirado de maca para fora do campo, pois quebrara a costela. Como o jogo estava sendo televisado ao vivo, dois médiuns viram através do vídeo os protetores espirituais de Dudu amparando-o na queda, a fim de que os prejuízos físicos não fossem bem maiores. Maria Helena e Dudu frequentam o Centro Espírita Allan Kardec, à Rua Barão do Bananal. 182. Dudu é expositor de Doutrina, e a esposa é médium de incorporação. Dona Elvira Beckerl é uma das diretoras da instituição. Dudu frequenta também o Centro de Estudos Espíritas da Lapa 6ª região, onde acompanha com muito entusiasmo a Escola de Médiuns. Está no último ano, mas como viaja muito e gosta bastante do curso, acredita que vai continuar por muito tempo até satisfazer toda sua necessidade de aprendizado.
Dudu tem dado várias entrevistas afirmando sua convicção espírita. Nota bastante curiosa é a carta que recebeu do Norte: um rapaz pedia, encarecidamente, que Dudu lhe enviasse as obras de Allan Kardec, pois ele estava em situação financeira péssima e havia lido, em uma entrevista do craque, que ele conseguira melhorar de vida depois que lera as obras de Kardec. O termo “melhorar de vida” tem mesmo conotações bem diferentes conforme a filosofia existencial de cada criatura.
Pergunto a Dudu o que ele sente quando está na arena do campo, cercado pela multidão. “Vibro com a multidão. Sinto mais garra, mais força, mais estímulo para a vitória”. Leu nos livros espíritas (especialmente Leis de amor, de Emmanuel) que não se tem uma profissão por acaso. “Sinto que estou pagando uma provação. Nos tempos antigos, por exemplo, na Roma dos gladiadores, os estádios eram semelhantes aos que observamos hoje, embora a finalidade das disputas seja, nos tempos modernos, muito mais sadias. Quando fui à Itália, visitei o Coliseu, em Roma, e não me senti nada bem, fiquei todo arrepiado, não consegui permanecer ali por multo tempo… Depois um Espírito confirmou-me que realmente as minhas reminiscências tinham fundamento”.
Certa feita, estava em Viracopos, aguardando o embarque para o exterior com o time, quando foi abordado por dois rapazes. Tinham lido uma entrevista em que Dudu falava do Espiritismo, dizendo que conhecia vários livros etc. Um deles pergunta de chofre: por que sendo espírita você dá tanto pontapé dentro do campo e reclama tanto dos juízes? “Olha, meu amigo, sou jogador e também sou humano. Já melhorei muito, já não fumo, não bebo, consegui equilibrar-me sexualmente, mas ainda estou lutando. Desequilibro-me ainda muitas vezes, porque dentro do campo quero vencer, torço pela vitória do meu time. O Espiritismo é uma escola que nos ensina a vencer nossos defeitos devagar e sempre”. O rapaz voltou-se para o outro e respondeu: “Tá vendo como é difícil?”
Dia 7 de maio de 1968. Em uma terça-feira, dona Alzira, mãe de Dudu, faleceu. Durante vários dias, o filho amoroso permaneceu, por anuência do clube, ao lado da mãezinha enferma, em Araraquara, prestando-lhe assistência e carinho. Regressara a São Paulo, logo após o enterro, trazia a dor da saudade, mas a certeza da sobrevivência do Espírito. No domingo, dia 12 de maio, o Palmeiras tinha um compromisso muito sério, Dudu tinha ficado muitos dias sem treinar, mas os diretores do clube, embora constrangidos, pediram a ele que jogasse. Cumpridor fiel dos seus deveres, entrou com renovada fé e foi considerado o melhor jogador em campo. O Palmeiras vencera por dois a zero. Era o Dia das Mães. Todos os jogadores estavam alegres. Somente Dudu era identificado triste. Nós sabemos, no entanto, que no mundo espiritual, dona Alzira deve ter recebido o presente de seu filho – o exemplo de fé na sobrevivência da alma após a morte do corpo físico, e o seu coração bondoso de mãe deve tê-lo envolvido nas suaves bençãos de carinho e de amor que só as almas abnegadas das mães são capazes de espairecer. De fato, apesar de toda a tristeza da separação, Dudu sentiu muito conforto quando dois médiuns videntes, por ocasião do enterro de sua mãe, registraram as palavras de seu pai: “Hoje é o dia mais feliz de minha vida porque vou me reencontrar com a minha companheira”.
Toda criatura que influencia a massa, ou que exerce um certo fascínio magnético sobre determinada área populacional, precisa enviar sempre, através do exemplo e da palavra, uma nota positiva de estímulo e encorajamento para o bem. “Dudu, o que você gostaria de dizer para os jovens de nossa pátria?” “Acredito que a adolescência seja uma fase difícil para todo mundo. Até que surja o amadurecimento e a responsabilidade, muita coisa boa ou má acontece. No entanto, gostaria multo que nossa juventude, quando passasse da fase de despreocupação, procurasse sempre um trabalho digno, buscasse estudar e, principalmente, exercitasse a própria mente nos ideais nobres para ter sempre uma moral elevada, constituindo-se em famílias honestas e bem formadas na elevada moral que Cristo nos deixou”.