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irEutanásia e Distanásia: Entenda esses dois termos.
*Colaborou Walter Graciano Júnior
No início de janeiro, morreu em decorrência da eutanásia a primeira pessoa sem doença terminal a ter o procedimento aprovado na Colômbia. Victor Escobar Prado, de 60 anos, lutava por esse “direito” há dois anos, com a ajuda de seu advogado.
A eutanásia é o “ato de abreviar a vida de uma pessoa, ou seja, tem como princípio acabar com o ‘sofrimento’ daquele que possui uma doença grave e incurável, quando não existem mais tratamentos que possam ser realizados para melhorar seu quadro clínico”. Ou seja, Victor Escobar Prado foi a primeira pessoa no mundo a não ter uma doença considerada terminal e ter acesso legal ao procedimento. Essa prática para doentes considerados incuráveis é legal nos seguintes países: Bélgica, Canadá, Colômbia, Luxemburgo, Holanda, Nova Zelândia, Espanha e vários estados da Austrália (Tasmânia, Vitória, Austrália do Sul e Austrália Ocidental).
Assim, para abordar a eutanásia sob uma ótica médico-espírita, é necessário falar também de um outro extremo: a distanásia, isto é, a prática pela qual se prolonga, através de meios artificiais e desproporcionais, a vida de um enfermo incurável. Para falar desses dois temas, a Folha Espírita ouviu o fundador e atual presidente da Associação Médico-Espírita do Estado do Espírito Santo, José Roberto Pereira Santos (foto). Ele é médico com especialização em Clínica Médica, Reumatologia e Medicina Intensiva, com pós-graduação em Cuidados Paliativos, e coordenador do Departamento de Bioética da Associação Médico-Espírita do Brasil (AME-Brasil), entre outras funções.
Nesta entrevista, que pode ser ouvida também em podcast, ele vai nos falar da visão médico-espírita sobre a eutanásia e a distanásia e abordar uma tema difícil que já pode ter assombrado muitos de nós quando teve alguém querido enfrentando uma doença terminal: como decidir quando deixar alguém partir? Até quando prolongar a vida artificialmente em uma UTI é correto?
Folha Espírita – Vários países, como a Colômbia, autorizaram a eutanásia nos últimos anos. Como o senhor vê essas liberações? As pessoas têm direito de abreviar a vida?
José Roberto Pereira Santos – Existem dois tipos de eutanásia: a ativa e a passiva. Na ativa, também chamada de direta, a morte vem através de um procedimento direto, como, por exemplo, a injeção de uma dose muito alta de sedativo na veia que vai levar à morte em poucos minutos. Esse é o procedimento aprovado na Colômbia, apesar de o país, até a ocorrência desse caso, ter liberado a eutanásia ativa só para pacientes considerados terminais, aqueles que têm uma doença para a qual não há mais tratamento, geralmente com baixa expectativa de vida, que está caminhando para a morte. E Victor Escobar Prado não tinha uma doença terminal, mas, sim, uma sequela de AVC, era hipertenso, diabético, tinha problemas cardíacos, mas não era um paciente terminal; era uma pessoa que falava, ouvia, sorria, tinha apenas uma vida um pouco limitada na cadeira de rodas.
A maioria dos países da Europa já permite a eutanásia passiva, ou indireta, aquela que é produzida através de uma omissão, ou deixar de fazer um ato ou omitir algum tratamento que vai prorrogar a vida, como deixar de alimentar e hidratar a pessoa, levando-a à morte por inanição ou hidratação.
A morte ainda é pouco discutida dentro da própria medicina, porque tem-se aquela ideia de que o médico deve curar, enquanto a função principal não é curar, é cuidar, zelar, dar conforto – claro que dentro disso você vai buscar a cura. Então num mundo que é utilitarista, voltado para o ter e produzir, vem sendo ampliada na sociedade a teoria de que os pacientes terminais sofrem muito e que podem ter seu sofrimento acabado com a eutanásia. Mas com o conhecimento espírita, a gente sabe que não é bem assim.
FE – Como decidir quando é hora de deixar alguém partir do ponto de vista médico-espírita? Chico Xavier contava sobre muitos amigos dele que estavam em UTI e que reclamavam de que já deviam ter partido e estavam há muito tempo sendo mantidos vivos artificialmente. Como é tomada essa decisão, qual a recomendação das associações médico-espíritas?
Santos – Além da eutanásia, temos outro termo ligado à morte, que é a “distanásia”, que é um termo que surgiu depois, é a morte difícil; é você tentar fazer procedimentos invasivos num paciente que está em fase terminal de vida, que está caminhando para a morte. Vamos tomar um exemplo de um paciente com câncer, com metástase e que já fez quimioterapia e não responde mais ao tratamento. Você está vendo o paciente desnutrido, definhando numa UTI, mas você acaba fazendo hemodiálise, transfusão de sangue e outras intervenções. Você aí deve pensar de outra forma, você não tem muito a oferecer em termos de sobrevida nem de qualidade, dignidade de vida. Então você vai atuar de uma forma diferente, não buscando dar mais tempo de vida, e sim dar a ele conforto, combater a dor e o sofrimento dele; ver as questões até espirituais daquele paciente.
São maneiras diferentes. Da mesma forma que há os que querem provocar a eutanásia, têm aqueles médicos que querem fazer tudo pelo paciente. E muitas vezes o fazer tudo pode levar também ao sofrimento. Não há assim um limite preciso, mas você vai aprendendo, conversando com a família, com o próprio paciente. Eu não tenho vidência, mas existem pacientes que você sabe que estão no caminho, que não respondem mais, parecem que desejam ir, que estão cansados, aí você conversa com a família. Mesmo com todas as leis que existem de autonomia do paciente, você tem que conversar com a família.
No meu caso, eu peço a orientação espiritual, rezo pelo paciente, para ter um melhor discernimento do caso. Então não tem uma receita, é cada paciente, mas sempre lembrando o seguinte: o paciente que não tem uma doença em estado terminal, se ele está em coma, se ele tem uma demência, uma doença pulmonar ou cardiológica grave, mas não está caminhando para o processo de morrer, esse paciente deve sempre ser tratado.
A AME-Brasil tem uma Carta de Princípios muito clara: nós somos contrários à eutanásia, seja ativa ou passiva. E somos contrários também à distanásia. Somos favoráveis à morte natural, também conhecida como ortotanásia, que é você deixar o paciente em caso de doenças terminais levar a sua morte de forma natural, sem grandes intervenções que prejudiquem e que vão levar ao sofrimento. E somos também favoráveis aos cuidados paliativos, que são esses cuidados que você dá aos pacientes não visando à cura, mas, sim, a um fim de vida mais digno, sem dor, sem sofrimento e com a presença da questão espiritual na sua vida quando o paciente assim o desejar.
FE – A religião tem um papel importante nesse processo do morrer, o Espiritismo especialmente. Como a gente pode utilizar esses conceitos espíritas com uma família que é laica, que não tem uma religião, ou que é materialista?
Santos – A gente vai procurando, como dizem os mineiros, pelas beiradas, vai tentando entender. Muitas vezes, a família é materialista, mas tem uma espiritualidade, então a gente vai pelo lado da espiritualidade, do sentido da vida, tenta deixar uma dúvida na cabeça deles, mas ao mesmo tempo respeitando seu entendimento. Para quem não tem uma espiritualidade, viver com doenças degenerativas graves é difícil realmente, eles acham que vai parar o sofrimento e, pronto, vai acabar. A gente tenta de alguma forma, através da espiritualidade, que é buscar um sentido para a vida, explicar qual a finalidade do sofrimento, porque ele é uma coisa universal. O espírita ainda é mais apegado na questão de que a gente tem que fazer tudo pela vida, mas aí a gente fala de André Luiz, das leituras que o orientam nessa situação.
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FE – O conceito de cuidados paliativos tem avançado muito. O senhor acha que ainda existe muita dúvida de quando e como optar por eles?
Santos – Cada vez amplia-se mais o uso dos cuidados paliativos. Na verdade, quando você tem uma doença degenerativa, que não tem uma cura, desde o início você já pode usar os cuidados paliativos. Eles ampliaram muito o conhecimento na área do cuidar, de valorizar sintomas que, muitas vezes, não são percebidos pelo médico de uma forma geral. Quando então iniciar os cuidados paliativos? Logo no início da doença, não significa morte, você vai progressivamente intensificando os cuidados paliativos até chegar numa fase realmente terminal em que só vão ter cuidados paliativos.
FE – Do ponto de vista espiritual, esse tratamento paliativo traz ganhos para o paciente, para o médico e para a família, na sua visão?
Santos – Eu acredito que a terapia de cuidados paliativos é uma medicina que tem muito a ver com o espiritual. Normalmente, os profissionais que escolhem essa especialidade já são preocupados com essa questão do cuidar, de oferecer conforto, combater a dor, o sofrimento. Já tem um outro olhar, é uma medicina que prepara para o desencarne de uma certa forma. E isso é muito importante para o paciente, para a família e para o médico, que cresce muito com isso e tira aquele foco de que ele tem que curar a qualquer custo, isso é ruim muitas vezes.
FE – Voltando na questão da prolongação artificial da vida, qual é o limite para a distanásia?
Santos – Ela deve ser evitada, não tem limite. É não fazer. É uma questão de educação do profissional médico, de enfermagem e da família.
FE – Em Obreiros da vida eterna, temos diversos exemplos de desencarne. A eutanásia traz alguma implicação perispiritual no paciente?
Santos – André Luiz ensina o seguinte nesse livro: não corte onde você possa desatar. Olha que profundo: o nó aí é o sofrimento, aquela doença que acomete a pessoa. Você não vai cortar, tentar desatar o fio que liga a vida espiritual à física. O perispírito é uma representação energética do corpo físico. Se você provocar a eutanásia, principalmente a ativa, uma vez que esse corpo energético está ligado de uma forma bem ampla, bem ativa ao corpo físico, o Espírito vai sentir energeticamente. É como se você paralisasse uma máquina que está em movimento. Para o Espírito é penoso, ele fica preso àquele corpo porque não estava no momento correto para o desencarne. A gente sabe que a vida é o bem mais precioso que Deus nos deu.
FE – Qual recomendação o senhor daria a quem tem um familiar hoje entre a vida e a morte numa UTI, por exemplo?
Santos – Se acredita em Deus, ou num Ser Transcendente, se tem alguma religião, primeiro é a oração, pois é o maior instrumento que a gente tem. Deve-se orar pelo paciente, pelos próprios familiares e pelos profissionais que estão cuidando dele. E ter uma conversa com os médicos que o estão tratando, uma conversa franca sobre o que que eles pensam, porque a pior coisa é a pessoa ter dúvidas. E também aceitar quando o processo está sendo irreversível, aceitar o processo de morrer. O morrer é natural, o grande problema da maioria das famílias é não aceitar a morte, então acha que o profissional tem que fazer de tudo para manter aquela pessoa viva.
A morte é a única certeza que a gente tem da vida. Muitas vezes, o paciente está naquele momento de passagem para o mundo espiritual e isso é interrompido artificialmente. Outras vezes, a carga vital está se esvaindo, mas dá mais carga vital elétrica, com choque, com medicamentos para instituir um pouco da vida física, gerando sofrimento para aquele indivíduo que está de partida. Então rezem e procurem a orientação da espiritualidade, porque ela sempre vem.